<$BlogRSDUrl$>

domingo, novembro 30, 2003



Um dia poderás ser ânfora desenterrada
navio naufragado em oceânicas águas
meu peixe amante e profundo solitário

Um dia serei quem sabe estrela de mar
o sonho teu de marinheiro, uma sereia
dor esquecida na rede dos pescadores

Não espero, não sei, se sou a onda de sete em sete
maré desencontrada, dando à costa no fim do Verão
um dia refúgio na rocha de uma lapa milenária

Sou castelo antigo e em tempos tive brilho
Sou búzio escondido em gruta de ilha perdida
Sou o mal renovador, assim tufão só e fugidio
Sou corte lacrimejante, não sou o bom vento

Nem quero o encontro marcado distante
Se nem o mar um dia me quis assim grão de areia
Fui nau à deriva às voltas na linha do horizonte
Sou o desejo de ser levada para longe do triste poente.

MAR
30.11.03 13h50m



sábado, novembro 29, 2003


 "Há muito tempo que não escreves!", dizia-me, no outro dia, um amigo meu, com aquele ar de quem bebe o último moscatel num qualquer bar do bairro, do meu bairro, do nosso bairro, no meu bar preferido, dizia-me isto e eu pensava com ar nostálgico, vagueabundo, sereno e, no entanto, persuasivo e inquieto, "pois não", e isso foi o que lhe respondi.
Não deixei de reparar nas varandas de Lisboa, nem nos gatos nos capôs dos carros, ou nas mulherzinhas à janela com ar inequivocamente cusco e pensativo, ou ainda no olhar da rapariga do autocarro nº58, sem saber se há-de sorrir ou ficar triste para o vizinho do lado começar a reparar nela e lhe dirigir talvez uma palavra meiga, ou um momentâneo esgar de desdém, mas qualquer coisa façam àquela rapariga que tem já o olhar abandonado pelo sexo oposto e pelo acto sexual em si mesmo. O meu amigo, insistia, "mas porque o deixaste de o fazer, quando o fazias tão bem" pensava eu, "tão bem como qualquer outra pessoa", como os milhares de artigos/crónicas que leio por mês, afinal a sensibilidade de um cidadão é uma coisa que parece que se pega, é  pegajosa esta melancolia andrógena e inócua, de um país mentiroso, de uma realidade feita por políticos e lambe botas e sistemas de informação secretos e câmaras em toda a cidade e cartõezinhos de identificação, os meus todos passados da validade, como que revolta e gozo da cara de quem controla um sistema e um país. "Penso que será por falta de tempo", mas, no entanto, não o tenho e vou-o tendo aos poucos, também com dois empregos e com a vida que levo, que queria eu? Ter tempo? Não é possível, humanamente, não cozinho em casa há nove longos meses de saudade, não dou um jantar, trago pessoas a casa e fechamo-nos no meu quarto e na sala, em conversas até às tantas da matina, bebemos desde o vodka ao moscatel, passeando pelo vinho verde. Ontem, era sábado, saí do emprego à meia-noite, como de costume, e não sei porquê apeteceu-me falar com uma mulher, o que é que eu fiz? Telefonei a uma amiga, para naturalmente, irmos sair por esses bares, estacionando o carro em apenas meia-hora, aterrando numa qualquer cadeira obscura, falando dos nossos homens, paixões, avarias sexuais, etc, etc? Não.
Em vez disso, estive à conversa com uma pseudo-ana-lésbica, que afinal era bi e tive das melhores conversas desde há uns anos, expurguei demónios, falámos de tudo, mas essencialmente de sexo, em conclusão ela acha-me bi (espero que porque lhe convém) e eu acho-a uma pessoa maravilhosa, que fez muita asneira na vida e que, não sei bem como não contraiu Hiv, em todos os anos de loucuras, algemas, vendas, vibradores em Ibiza ou noutros locais quaisquer.
Só sei que ao longo de mais de três horas, sob o efeito de meio bacardi, à meia luz, consegui falar mais com uma pessoa que em mais de 8 anos de convivência com centenas de outras pessoas. E mais uma vez o meu amigo dizia-me "mas porque paraste, porque o foste fazer, logo tu que me fazias ir às lágrimas, sorrir, pensar, com os teus, pequenos, demasiado pequenos, é certo, textos?", respondi "não sei, deve ser uma fase", reflecti e não disse, que grande fase que devo estar a passar, não escrevo a sério pelo menos desde os meus vinte e um anos e tenho a lata de dizer, não sei, não me digas que em sete anos, não tiveste tempo para parar e pensar um pouco sobre isso?
Claro que tive, se pensei, não sei, pelo menos conclusões, não as tirei, mas quando se perde a energia, ou se se a canaliza para outros ou outro, esta fica lá retida e não se consegue transpor para o papel, sentimentos de repulsa, amor, ódio, invejas (que nunca as tive), escrita censurada pelos outros e que não iria conseguir nunca dar a ler. Claro que escrevi uns parcos textos nestes sete anos, mas foram momentos raros e de nenhuma beleza, pelo menos a meu ver, não me continham totalmente, não era capaz de dizer o que sou agora, o que fui, ou o que não era, os meus defeitos programáticos, pois sem melhorar intrinsecamente o texto queixa-se e grita-me ao ouvido não escrevas brutalidades, poupa-nos dessa tua falta de inspiração e faz-me o obséquio de viver primeiro e dizer depois. Pensa e escreve. E não, escreve e depois pensa.
Parece mentira, eu sei, parece que o choque frontal no Terreiro do Paço, onde só iam jovens entre os dezasseis e os vinte anos, que de seguida se estenderam todos em filinha no chão, chocados com o que tinham feito e com dores de alma pelo já feito ou pelo medo do que o papá fosse dizer, depois, quando visse o carro e lá estava eu de telemóvel em punho a telefonar para o 118, "(...)estão 4 ou mais, deitados no chão, os outros estão dobrados sobre as suas próprias barrigas, outros agarrados à cabeça, o acidente é no sentido Cais-de-Sodré / Santa Apolónia e estão a ocupar a faixa mais à esquerda neste sentido(...)", parece que o ataque cardíaco da também Joana, no corredor do meu emprego, parece que o pombo que vi esmigalhado no meio da estrada, sem pescoço, parece que o relato, que tive, em primeiríssima mão do acidente do IP4 onde só a criança sobreviveu, parece que a pergunta do meu amigo, nada em mim acordam, ou acordaram. Tenho sempre a resposta pronta a cada situação e a reacção exacta do telefonema para a emergência, que quase o pombo já morto e sem pescoço não se escapava da chamada da ambulância.
 
 25/08/02
 MAR
 14h25m



 Tenho uma escrita matinal, diferente da escrita do fim da tarde,... assim como eu... diferente, conforme as horas do dia!


sexta-feira, novembro 28, 2003


 DORSO DE ANJO
 
  conta-me
  Em sonhos rua que encanta
 
  e uma trombeta irreal
 conta-me entre as amêndoas
  mentiras são que levanta
  um anjo celestial.
 
 entre as mulheres
 que é preciso depor
 aos pés
 do rei
 
 conta-me
 toma-me
 amarga
 
 faz-me saber
 mais
 do que sei
 
  
 Yvette K. Centeno




quinta-feira, novembro 27, 2003


Hoje conheci uma criança no seu mundo infinito de sonhos
vi-a e ouvi-a viajar no tempo, até à idade dos castelos
e cavaleiros, guerras e amores.
Hoje pensei como ela e agarrei-me ao sonho de um dia ser feliz.
Hoje vi uma criança a imaginar e a viver as suas próprias histórias,
de monstro feroz e gigante mau.
Hoje recordei uma criança que um dia também fui.
E também brinquei e sonhei e viajei.
Hoje vi a criança que eu era e que já não sou.

MAR 1995



  
como não tenho lugar no silêncio onde morrem as gaivotas,
 despeço-me no oceano e deixo que o céu me conheça.
 talvez a serenidade possa ser as minhas mãos a serem uma
 brisa sobre a terra e sobre a pele nua de uma mulher.
esse dia, esperança de amanhã, poderá chegar e estarei dormindo.
 hoje, sou um pouco de alguma coisa, sou a água salgada
 que permanece nas ondas que tudo rejeitam e expulsam
 na praia. as gaivotas sobrevoam o meu corpo vivo, os meus
 cabelos submersos convidam o silêncio da manhã, raios de sol atravessam
 o mar tornados água luminosa. aqui, estou vivo e sou alguém
 muito longe.
 
José Luís Peixoto




quarta-feira, novembro 26, 2003



Sabes quando o mar está longe e o desejamos percorrendo o mais profundo do nosso corpo assim qual ideia impalpável da palavra em Octavio Paz?
Sabes quando há a necessidade da expressão de algo que a simples palavra não suporta em significante, qual Sophia de Mello Breyner Andressen?
Sabes quando não sabes se o que queres é bom, se o desejo desviante à norma te é estranho, mas em nada indiferente como Walt Whitman?


 



 Haverá pouca coisa a esquecer:
 O vôo dos corvos,
 Uma rua molhada,
 O modo do vento soprar,
 O nascer da lua, o pôr do Sol,
 Três palavras que o mundo sabe,
 Pouca coisa a esquecer.
  
 Será bem fácil de esquecer.
 A chuva pinga
 Na argila rasa
 E lava lábios,
 Olhos e cérebro.
 A chuva pinga na argila rasa.
  
 A chuva mansa lavará tudo:
 O vôo dos corvos,
 O modo do vento soprar,
 O nascer da lua, o pôr do Sol.
 Lavará tudo, até chegar
 Aos duros ossos desnudados,
 E os ossos, os ossos esquecem.
  
 
 Archibald Mcleish


 


terça-feira, novembro 25, 2003

Encontro o encontrar ao fim de um tempo, creio acreditar em ti, mesmo que muitas vezes me tenham feito desacreditar em tudo.




    - Quando eu utilizo uma palavra - disse Humpty Dumpty com um ar trocista - ela significa exactamente aquilo que eu quero...
Nem mais nem menos.
    - A questão é saber se pode fazer com que as palavras signifiquem coisas tão diferentes - disse Alice.
    - A questão é saber quem é que manda...
Mais nada - corrigiu Humpty Dumpty.


Lewis Carrol
Alice do Outro Lado do Espelho





      "Então quem sou eu?
 
 
     Digam-me isso primeiro,
     e depois,
     se eu gostar de ser essa pessoa,
     eu subo;
     senão,
     fico cá em baixo
     até ser outra pessoa qualquer."
 

 
 Lewis Carrol
 de Alice no País das Maravilhas




segunda-feira, novembro 24, 2003



A dor da inconstância da fome de viver sempre foi em mim inexplicável
Recordo quantas perguntas acerca desta minha eterna insaciedade
admito a culpa de o ser, de estar em constante mutação
do não saber transmitir o que fui e sou, do mistério que há e é
Cancro do saber ser assim e doer-me isso e conhecer-me enferma
não conseguir dizer em palavras o dentro, o fundo, o todo de mim
provar o que sinto assim é-me sempre tão dolorosamente difícil
delirar é extremamente fácil, estar também, ficar nunca foi
Encontrar o ser que entenda é assim como...
um impossível irresolúvel!




domingo, novembro 23, 2003



 Um olhar que não é meu
 Uma paixão que nunca encontrei
 Um amigo perdido, já não ouve
 Um mar longínquo, inacessível
 Uma ponte de dor lá longe no norte
 Uma mão sem toque na minha
 Um furor de amar amante
 Um alguém diz palavras distantes
 Um murmúrio tocante, uma voz suave
 Uma necessidade de ti, tanta
 Um copo num qualquer bar
 Uma caneta perdida na areia miúda
 Uma boca bonita não sente o beijo
 Um cigarro atrás do outro, esfumaço
 Um querer e querer ter-te aqui
 Um fim sem início, nem princípio
 Um pouco de tudo, um nada acolá
 Um ter necessidade de chorar
 Um parar e não pensar, atropelar
 Um ir, um vir, uma correria precisa
 Um relógio parado há que tempos
 Uma praia de saudade extensa
 Um jogo inocente de sensualidade
 Um perder, um ganhar, não interessa
 Uma boneca sem carinho, abandono
 Um número, uma letra de lamento
 Um sussurro aliciante recusado
 Um ser não sendo, estando só
 Uma não coragem, de amar
 Uma mágoa sem parar, melancolia
 Um rosto, uma alma, assim ficada
 Um deserto, um vazio, de ti
 Uma ferida ainda não sarada
 Uma vida, duas vidas desunidas
 Um querer, não querendo magoar
 Um desejo forte fica afiado
 Uma onda, tal qual isto, no vem-vai
 Uma maresia, sobe e desce como eu
 Um escutar atentamente e esperar.
 
 MAR
 2/2/2003
 17:30


 




sábado, novembro 22, 2003



Não há vazio, não há palavras, tuas, há a chuva lá fora, há o mar a bater na areia.


Não há a tua voz, não há o que me queres, há a ausência do barulho nas conversas de rocha em rocha, de estar em estar turbulento, nem sempre conseguindo.


sexta-feira, novembro 21, 2003


"- Queria ter-me chamado Laura." - foi o que um dia respondi à minha mãe quando ela me perguntou se gostaria de ter tido um nome diferente do meu.


"- Queria ter rasgado contigo os céus e ser feliz, muito mais feliz, do que já fui!" - foi o que disse ao meu primeiro namorado quando acabei com ele.


"- Queria ter-te encontrado mais tarde na vida, queria ter-te conhecido daqui a cinco anos, talvez dez. Não queria nada ter-te conhecido aos meus dezassete e aos teus quinze anos - amámo-nos como crianças. Não queria." - foi o que me ouviu dizer a minha alma gémea aos meus vinte e cinco anos.


"- Queria ter querido ter filhos teus, na altura exacta, no momento certo, quando ainda nos amávamos." foi o que declarei ao meu último namorado.


"- Queria amar-te, mas não amo." - foi o que acabei por dizer ao meu último caso amoroso.


Penso. Que direi daqui a uns anos? O que terei perdido e o que poderei ter dos outros, em especial de, um outro que não sei quem é. Penso se algum dia serei feliz, se amarei, como já amei, se me amarás tanto como, mais que, ou menos sublimemente, que outros.


Às vezes penso se será possível...

 


MAR - 21.11.03
20h10m



quinta-feira, novembro 20, 2003

Vou-vos dizer uma coisa, ser assaltado uma vez é azar, ser-se duas em seis meses, é andarem-me a tentar lixar (para não usar outro vocábulo)!!! Desta feita vou tomar medidas: vou falar com o dealer da minha rua!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Daaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa---seeeeeeeeeeeeee


quarta-feira, novembro 19, 2003



A minha casa para o mar era moinho
moleiro em barco pescante
Telhado de colmo, celeiro esvoaçante.
A minha casa são as ondas do mar
O búzio onde vivia, agora é concha
Outrora caracol no deserto rastejante
A minha casa é aquela rocha, vê-la?
Lá ao fundo, com lapas, polvos, caranguejos.
Ouves o mar da minha casa, ouve-lo?
A minha casa é a maré alta efervescente
borbulhando na areia, outrora relva
Agora tem piscina a minha casa
E lareira para aconchegar
não tem conchas a minha casa agora
Estalavam no lume, estas
não são as minhas labaredas,
não pertenço aqui, o moinho
espera-me em deleite de aconchego
Está triste porque eu não chego
Na melancolia da espera de mim
Porque eu não parto daqui
Tenho saudades do mar e não vou!
 


MAR, 31.10.2002

 



Aprendi um dia que amar não é necessariamente bom ou mau: estado de espírito por vezes confuso, na maioria delas saudável, sem definição exequível em palavras - espectro projectado do que um dia queremos ser para um outro. Dor, paz, encontro, fome,...
Encontrar alguém na certeza de que se ama é assim como perder em pequeninos o medo do escuro.
Descoberta na confiança de outro. Maravilha desconhecida.
Conhecimento renovado num olhar de alguém que nos sente presentes.
Deixar por dizer amarguras tentando sempre encontrar o conforto para dar.
E quando alguém não nos ama:“- ó mãe quero um rebuçado, - ó mãe quero um rebuçado, - ó mãe quero um rebuçado”,“- meu querido agora não pode ser...”,  “- ó mãe eu queria tanto um rebuçado!”


terça-feira, novembro 18, 2003


A primeira vez que vi a morte bem de perto os candidatos a tal destino tinham 6 e eram meus amigos do piso 3 de pediatria no Hospital Distrital onde o meu irmão se encontrava temporariamente internado, tinham meningite e HIV, contei-lhes todas as histórias de fadas, reis e castelos que conhecia, li-lhes a fada oriana, tirei-lhes fotos e mais fotos e mais fotos na impressão errada de criança que assim pelo menos para mim não iam morrer nunca. As outras crianças, os outros pais não brincavam com eles, só ao de longe, lembro-me que ambos eram cenoura e que eram irmãos gémeos e que os achava lindos e que obriguei a minha mãe a levar-me ao funeral deles porque dizia-lhe - os amava e tinha de me despedir. Eu tinha 7 anos.


segunda-feira, novembro 17, 2003

Naquela tarde pensei, pensei, pensei e o mar nada me disse. Auscultei a areia, arrisquei passo a passo a rocha, quis mergulhar, hesitei, lá do alto a gaivota espreitou-me desconfiadamente como uma estranha ao seu mundo. Recuei, mais uma vez, na direcção da vida. Regresso a casa. Instalei-me no sofá do Luís sem que ele suspeitasse de mais um pensamento, uma tentativa!


MAR 17.11.03 12h12m


domingo, novembro 16, 2003

The Human Stain

CULPA HUMANA


Realizador:
Robert Benton

Com

Anthony Hopkins
, Nicole Kidman, Ed Harris e
Gary Sinise
M/16 - 106 minutos - Drama / Thriller


Um belo ensaio sobre a vida. Sobre o que nem sempre pode ser... mesmo que muito queiramos. Um drama pseudo-intelecto-sexual, a vida, não a nu, mas quase!


Merece a pena, aconselho a visualização, uma oportunidade de reflexão, afinal mais uma...



Não pretendo ser mais do que aquilo que sou: uma ave perdida na estrada sem fim de um mar sem fundo à vista.


Pequenas e amantes Almas Gémeas.



Inveja? Não tenham inveja de mim caros leitores, pois eis que eu não passo de mais um simples neurótico mortal, com um pouco mais de sonhos que os outros, talvez.
Foi hoje que acordei assim e parece que de repente reparei que de vez em quando acordo assim cheia de sonhos por concluir. Mas decerto que não é só por isso que aqui estou a olhar o meu futuro incerto que poderia, se quisesse, decidir agora.
E o medo?
Falta de coragem? Pode até ser.
O que é mais estranho é que sei bem o que quero, mas quero tanta coisa ao mesmo tempo que só desejo não ter querido. Mas quero.
Eu queria ir para um sítio onde já estive tantas vezes, mas só estive e não fiquei. Recusei o meu amor, a minha alma gémea. Mas e deixar de pensar nela? Não consigo. Já lá vão tantos anos e eu já estou velha para tantas emoções. Será?
Acho que sei que não.
A história é tão simples e eu para aqui a tentar complicá-la. Eu sou uma mulher e ele era um pouco mais jovem, e nós amávamo-nos, em qualquer recanto deste país a que chamam Portugal, e que eu preferia que chamassem de saudade, pois é esse o único sentimento que une estas pessoas com amor ao mar, país de poetas, pequenos e incandescentes poetas.
Pois bem, eu amo.
Não sei quando, nem como e nem porquê, mas sei quem e isso é que dói, corrói, por falta de coragem, por falta de amor? Amor era o que não nos faltava, mas a distância parecia ser até ao Japão. Um ou muitos mares de distância que não conseguem afastar o meu pensamento.
E ainda lembro os únicos sete dias que ao longo destes sete anos mais um, passámos juntos. Será que o número da perfeição também tem algo a ver com tudo isto?
Tenho agora vinte e cinco anos, mas tudo começou nos meus dezassete. Alguém ou mesmo todos me poderão achar louca por amar tanto tempo alguém que vi tão pouco, mas há mais espanto: ele também ainda me ama, mas será que se lembra que ainda me ama. Acho que está na altura de lhe lembrar, por isso mesmo eu desabafo em mil folhas de papel, que se calhar também só deveriam ser sete, mas o meu coração teima em sempre querer escrever através de minhas mãos, mil folhas.
Lisboa foi a cidade escolhida para o primeiro contacto. A voz soou no meu interior de maneira estranha, e quando me voltei lá estava o meu alguém, que parecia que tanta gente procurava e eu tão depressa, tão cedo, encontrei.
Mas, aos dezassete anos mesmo que se saiba que se encontrou alguém que se ama nunca se vai dar aquela importância que eu hoje daria.
O olhar permaneceu por séculos, mas afinal eram só escassos segundos. Ainda me lembro da minha avó me dizer que para conhecer esse alguém deveria pisá-lo. Ri a gargalhadas estridentes, mas o ridículo é que foi mais ou menos assim.
Foi um tempo de felicidade despreocupada. Eu amava-o e ele adorava-me, não me tocava. E quando tocou, num mero dar de mãos, senti-me transportada para um céu que não era este do buraco do ozono.
Foi horrível amar tanto. Mas só com o tempo a doer é que descobri que não era um amor comum, não poderia ser.
Doeu, muito.
Como uma bela rapariga de dezassete anos, tive muitos namorados até aos vinte e cinco, mas o que chamam amante era sempre o mesmo. Não era um amante sexual, juro. Sexo foi coisa que nunca aconteceu entre nós, estranho? Talvez não. Só compreenderá quem de vós já encontrou a sua pequena e amante alma gémea.
A necessidade de nos ouvirmos era terrível, a saudade apertava e aperta, fui infiel em pensamento tantas vezes quantas pude e já perdi a conta, e sei que no entanto, se eu tivesse contado algum dia tudo isto a um namorado meu, ele se riria e não daria a menor importância, só pela falta do factor sexo.
A infidelidade é sempre taxada pelo maior ou menor contacto corporal, mas esquecem-se de que o cérebro, a sensibilidade é que controla os nossos actos e não uma mera noite de loucura e êxtase.
Por estranho que possa parecer, não era o contacto da penetração que nos unia, era a alma. O pensamento extrasensorial.
Laura, não precisava falar o que sentia para que Carlos soubesse, ele sentia, sem eu suspeitar o sorriso de ternura transportando o que ele já sabia que eu ia dizer.
Amor velho que eu vi surgir devagar no meu coração, grão a grão.
Ninguém vai fazer o meu amor morrer, na estrada escura da minha vida. Nada foi feito em vão, nem o amor novo, no caminho, que sempre vou encontrando.
Pequei, eu sei, mas não perdoo o meu sofrimento chamado saudade.
Laura e Carlos têm só o seu passado, na memória, muitas vezes inventada, a felicidade.
Mas sou uma imbecil feliz, por saber que já morri de amor.
Fico comovida de lembrar, João, Luís, Miguel sei lá quantos mais. Mas chega de saudade de Carlos, vou fazer alguma coisa.
E a coragem?
Fugiu com Carlos e Carolina, que com ele ficou, e eu guardo a dor de todo este meu mundo. Sei que o meu pranto de dor escondida não me vai ajudar, tenho de fazer com que as estrelas me mostrem o caminho.
Carolina ficou com ele, mas não lhe tem o amor, que eu, Laura guardo.
Um dia disse a Carlos que Carolina não merecia não saber ser amada. Mas ele partiu logo que eu disse, num barco em Santa Apolónia, pois não queria ver o amor passar na minha janela.
Mesmo assim voltei para casa de óculos escuros, pus a minha cassete preferida e no silêncio da noite juntei durante anos, o antes, o agora e o depois, mas a minha dor era sozinha, pois Carlos já nem meu amigo queria ser. Sabia que a
amizade não bastava e sabia que secretamente me continuava a amar.Mas, se eu me interessar por alguém, eu vou sempre dizer que o amo, mas vou sempre procurar o sitio onde Carlos poisa o seu amor por uma Laura que já não existe, mas que eu posso reinventar.
Consome-me a ausência do amor de Carlos. Mas uma coisa é certa, ele continua na minha vida, no meu pensamento ao anoitecer.
Laura é apenas uma mulher que amou uma pequena e amante alma gémea.
Carlos está na minha vida porque quer, ele não chega a me esquecer e eu sinto o homem que esmorece de culpa de não me querer amar.


 



sábado, novembro 15, 2003


Não sei se respondo ou se pergunto
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.


MAR


30.03.2002



sexta-feira, novembro 14, 2003

Lisboa


 




Caminho perdida entre seres estranhos cujo reflexo encontro reflectido no espelho todas as manhã. Entre rotinas e máquinas inquestionáveis o meu caminho é traçado por uma vontade obrigada. Perco o meu tempo a ver o tempo esquecido numa resignação dos seus olhares quando se apercebem de que têm de esperar por algo, por alguém. Entre estes seres de gravatas e fatos executivos passeiam damas sem pressa que arrastam os seus vestidos de rendas para se despedirem dos que partem e estão na praia. O céu confunde a cor de um amanhecer com o arco-íris de uma cúpula  que nos protege de um mundo que se perdeu lá fora. Vêem-se barcos voadores que não mais partem no mar , mas conquistam um novo mundo igualmente sem fronteiras, voam ao lado dos meus dragões de prata e fogo que trazem algumas sombras à cidade. Prendo o meu olhar na pobreza que se espalha pelos passeios para trazer a minha mente de volta à realidade mas as fadas que guiam o vento levam-me para longe. Fragrâncias...doces e acres que traduzem seres e objectos que funcionam sem que nos apercebamos. Entre elas surge um ecoar de um nocturno, na minha mente ele apaga qualquer som de rua, de cidade, Lisboa vira tela, uma pincelada por terminar, enquanto o piano chora, cronometrado pelo bater incessante do apalpar do passeio de um cego que entre os outros vê e sente muito mais.



Recebi este email de Spam que resolvi publicar de tão caricato que é:


 " Terça-feira, Maio 13, 2003



Toda garota deveria ter um amigo-amante. Sabe aquele amigo que te conforta, te coloca para cima, a faz sentir bonita, legal, em fim, especial? Aquele amigo que você sempre procura quando está precisando de colo. Adicione a esta relação o sexo. Repare bem que eu disse sexo e não compromisso, ligação amorosa, nada dessas coisas de uma relação de namoro. Não seria perfeito?

Mas existe um pequeno problema. Numa relação como esta os sentimentos podem se misturar. Isso pode colocar tudo a perder: o amigo e o amante. Então é importante ter em mente que você não pode ficar sonhando acordada, fantasiando a relação de vocês. É preciso  que você tenha na sua cabeça (e ele na dele, claro) que a relação de vocês é de amizade. Por isso, não vale ciúmes, sentimento de posse, constrangimentos, vergonha, qualquer tipo de controle.

Vocês pensam que é fácil? Eu não acredito nisso. Tudo bem que costumo confundir sexo com amor. Mas mesmo para aquelas garotas bem resolvidas a coisa pode complicar. Imagina que o eleito a amigo-amante não é seu amigo a toa. Vocês devem ter varias coisas em comum  ou no mínimo se divertem muito juntos. Como um bom amigo-amante ele deve ser carinhoso e ter aquele colo gostoso. Ele te compreende ou no mínimo te escuta sem fazer julgamentos. Isso por que esse é o amigo que você procura quando está se sentindo vulnerável e carente. Por tudo isso pode ser um pouquinho complicado não se envolver emocionalmente.

Então, levando em conta todas as variáveis acima, você teria condições de ter um amigo-amante? Melhor ainda, tem algum candidato em vista? Eu ainda estou procurando o meu. Mas já deixo aqui o meu manifesto:

  TODA MULHER TEM O DIREITO DE UM AMIGO-AMANTE.

Claro que os meninos também tem direito a essas relações especiais.

Mas por enquanto, eu estou defendendo o meu direito!"



quarta-feira, novembro 12, 2003


Conferência Internacional - Abuso Sexual de Crianças



A sociedade portuguesa confronta-se, hoje em dia, com a consciência de que ocorrem em Portugal, numa dimensão só agora percepcionada, violações graves dos Direitos das Crianças. Conscientes da necessidade de um debate contínuo e continuado nesta área, a Associação de Mulheres Contra a Violência, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Psicologia Comunitária, vai realizar uma Conferência Internacional na área do Abuso Sexual de Crianças.

Local: Aula Magna, Cidade Universitária de Lisboa

Data: 18 e 19 de Novembro de 2003


E-mail:
amcvportugal@hotmail.com


terça-feira, novembro 11, 2003


Desabafo

 



O estado de espírito não é famoso, no entanto também não posso dizer que é mau! Não, não é mau, à parte de não ser bom!


Sempre tive um pessimismo latente que passou despercebido em quase todas as ocasiões, aos amigos que quase nunca me faltaram, à agenda que quase sempre esteve mais preenchida do que o que desejei, aos fins-de-tarde que não tive junto de quem amei, os fins-de-semana que perdi por tantas mais desculpas, quantas as que eu, tu, ou todos arranjámos.


Hoje não me permito abusos de horários, já não me lanço às borgas desenfreadamente e consequentes ressacas no sofá do amigo, no Domingo seguinte, ou no local de trabalho ainda meia a fechar os olhos.


Hoje aproveito os Domingos à beira mar, sozinha, ou acompanhada, decidi no fim do Verão recomeçar a correr a costa desta cidade, ainda no fim-de-semana passado descobri uma outra passagem de veraneio para peões despreocupados, acimentada tal como convém e a mim não me faz falta.


Hoje aproveito os almoços de fim-de-semana, telefono, apareço, vou, ter com quem me apetece e estamos juntos mais tempo.


Hoje venho aos fins-de-tarde para casa lentamente pela marginal, aproveitando a paisagem relaxante, paro em algum café, compro as "grosserie", dirijo-me ao restaurante, ou ao cinema, olho montras e por fim estaciono em casa, não saio, não quero, não me satisfaz e nem me apetece. Hoje,... que o estado de espírito não é famoso.

 

 

 


segunda-feira, novembro 10, 2003

Nunca me perguntas nada de concreto, mesmo sabendo que provavelmente não queres as minhas respostas dou-tas em forma de segredos de búzios de mar, que busco nas tardes de uma praia, numa qualquer costa alentejana.
Se calhar por não perguntares, pensei eu um dia, não queres saber de mim, ambos sabemos ser falso, entrecurtas carinhos com segredos, como se fossem verdades banais que o tempo já me tivesse dito um dia.
Mentira, não me amas, verdadeiramente, esta é a única verdade que nunca me foi dita por ti, nem aos berros, nem em sussurros de sexo banal e fácil.


MAR 10.11.03
20:35



A tua presença tornava a semana apressada num qualquer domingo à tarde de frente ao mar.
Mas esse encontro não será jamais passível de ser uma verdade absoluta e tu sabes como eu gosto de absolutos perfeccionistas.
Sempre que eu te quis amar tu não quiseste e sempre que tu me querias, ou não estava lá, ou não deixei, fugindo para outras marés.
Amaste-me a barriguinha sexy onde dizias que morava um rei, aquele que poucos sabem que eu tenho e que me aprisiona no seu castelo dourado escondido em segredo.
Desfocaste-me o olhar em gargalhadas felizes somente provocadas pela tua semi-presença.
Preenchi algum dia o vazio de que te acusas?
Ficaste algum dia zangado comigo por isso?
Se tu ficaste não serás o primeiro, sem receio, não admitindo a minha falta.
Os meus amigos dizem-me que não te escreva, mas será que não é a mim que escrevo, será que algum dia verdadeiramente te escrevi?
Procuro-te às vezes nos interstícios de uma ou outra, qualquer multidão, sempre sem sucesso, já cheguei a pensar que se calhar nem sequer existes.
Porque se existisses eu não ficava triste pela tua presença em mim.



09.11.03 MAR



domingo, novembro 09, 2003

Uma lembrança de mim, aqui tens

nem que fosse esta folha e

um fio de cabelo meu, um

olhar distante num tímido sorriso

Aqui tens para que no dia

em que eu morra, tu

saibas que me fizeste falta

mas, também para que eu

saiba que no dia em que me for

de ti, morta e cremada

Que eu veja o cair trémulo

saudoso de uma pura e minha

lágrima tua...

 


MAR 08.11.03


sábado, novembro 08, 2003

Quando o nosso olhar transparece o que sentimos não há muito mais a fazer, resignar-me-ei a ver que olhar te darei.


sexta-feira, novembro 07, 2003


E quando tu queres que passe e não passa?!?!??!?




Perdi, este meu eu
lá longe no mar
no horizonte que só eu sou.
Já não tenho o sentido
da vida, um abrigo
que para lá foi perdido
já não espero por ti
pois quebraste a promessa
de um amor querido!


MAR


Problema I


Sabe aqueles dias em que passamos dia todo a achar que somos horríveis?


quinta-feira, novembro 06, 2003


Por demais que se imagine o infinito
ele não existe, subsiste
Existe e coexiste connosco, a dor
o pudor, o clamor de gostar, amar
o sofrer, esse retumbante sentir
viver, querer mentir e gostar
do amor, retrair o pedir
da esmola de um carinho
de uma mão que toca
de um olhar que chora
de um ouvir que chama
de um sentir que não fala
de um amar que não sente.
Este é o sentimento confuso
repleto da culpa do ser
que não escuta, não fala, não nada
É um amar, gostar, odiar...


 


MAR 1997





quarta-feira, novembro 05, 2003


Quando acordo e me levanto sinto o peso maior de todos nos meus ombros, o mal estar geral, o corpo pesado, embora tenha sido a noite que mais dormi desde quinta-feira passada.
Quando fazemos algo porque temos que o fazer, mas o que estamos a fazer não nos deixa de todo bem connosco mesmos...
E o que fazer quando de repente tudo se parece encaminhar e o mundo nos cai em cima, ou nós somos obrigados a cair em cima do mundo?
E como explicar a quem amamos que tivemos de agir assim, que tivemos de querer seguir caminho, que libertar amarras faz parte da vida que queremos ter? Que temos de poder ter? Que desejamos ter? Mas que acima de tudo merecemos ter?
E como nos explicar a nós mesmos, que não queríamos ter dito aquilo, mas foi aquilo que nos saiu num momento de raiva e suprema libertação?
Como dizer a alguém que embora o amor lhe seja inequívoco, lhe é também inerente na discórdia, no sentir que não devo prosseguir assim, que o desejo de ser feliz, é maior que o desejo de combinar uma situação sem remédio?
E como, quando o gostar está em mim e o gostar sou toda eu, mas dizer – gosto, quero, amo, mas não pode ser?



Preciso ser feliz.



Precisava de fugir desta cidade e ir ao Norte, que me liberta sempre.




Desculpa.


terça-feira, novembro 04, 2003


Pareceu-me que quis que lesse o "Bye bye love, bye bye hapiness" e li.



Posso comentar?



Gostei muitíssimo.



Se não puder apague o email a partir daqui, não leia mais e até qualquer dia, ou email,...



Sou muito analítica, mas principalmente com os outros.



Se eu for algo "amarga", eu diria que o termo é - triste para comigo - espero que mo diga.



Se não estiver a escrever isto num Português correctíssimo, peço desculpa "mas tive necessidade de descontrair" e fumei erva, que não gosto de lhes chamar charros (esta é uma história que se quiser ouvir terei de ter fumado um antes, mas pergunte, pode ser que,.. haja uma resposta coerente - embora me considere contraditória). Se divagar demasiado, será também devido a alucinação.



Ora, do meu mais fundo, digo-lhe que, ou gosta desta mulher, mesmo, ama-a, não sei quem é, nem o que representou para si, se algum dia a amou, se nunca, se um dia pensou que a amaria ou amava e hoje sabe/sente que nunca nada do que sentiu era amor, não sei quanto tempo durou, se foi recente, se . Ou, gosta de outra, mas que sei que precisa de saber se necessita gostar de outra. Ou ainda a 3ª hipótese que é a de querer gostar de outra e gostar mas precisar de saber que já não ama a anterior, mas ter a certeza que é a próxima que se acha apaixonado a largos passos de amar.



Digamos que a discussão é intensa e anterior, ninguém vai a casa de outro alguém à 1h da manhã sem nutrir uma necessidade muito grande de se explicar, de ouvir justificações, ou seja de estar bem com aquela pessoa. Interessante como eu acho que você quer e até mesmo necessita dessas "discussões", porque se sente mais seguro, mais de ego em poupa, se "gaja que me ama", etc, etc.



Eu acho que os argumentos que usa de - eu sou muita coisa melhor do que os outros é, eu acho, uma negação dos seus próprios defeitos e, do seu não-auto-reconhecimento dos mesmos.



Não sei se a introspecção será de todo necessária na outra parte, se calhar o seu celibato deveria ir neste sentido da auto-análise.



 



Mas isto é só um: eu acho...



 



Como disse no início se não quisesse nenhum comentário que apagasse o resto.



 



Portanto, eu espero que um dia encontro aquele caminho que o leve a quem deseja no seu todo, aliás no todo de si, porque o resto há-de vir massacrá-lo,... a vida!



Menino com olhos de cor clara

menino de olhos meigamente doces

menino aos meus olhos, tristonho

menino que não vês o meu olhar amante.

Menino quem pensas tu que és?

para me tornares na menina dos teus olhos.

Menino de que te crês capaz?

Para me fazeres assim escrava de te olhar.

Menino, moço, homem, cruel

insistes tanto na posse da que só eu sou

menina, moça, mulher, de mel

menina feita assim em ti mulher.

Cresci contigo, além do desconhecimento de ti

sou agora mulher na ausência de ti

já fui moça ao lado desse misterioso olhar

queria voltar a ser menina para te esperar.

Aguardar o teu feliz olhar

mas desta vez não o magoar

conseguir, ser mulher e tu homem

e nós os dois, como amantes, que nunca sofrem!

Seria talvez amar demais

quem sabe não suportasse

ou alguma dor em ti encontrasse…


 


MAR, 1992


segunda-feira, novembro 03, 2003

Queria ser a menina dos pés descalços na areia molhada em Novembro a passear o cão na costa oceânica bravia, algures por aí a pegar búzios com cuidados e ouvir-lhes os segredos adormecidos.


 


03.11.03
07h28m MAR


domingo, novembro 02, 2003

Às vezes sonho não ser ninguém no deserto do mar.


Às vezes sonho poder encontrar-te dentro das conchas do mar.


Às vezes também sonho o búzio a sussurrar-me o amar bem baixinho no meu ouvido.


Às vezes sonho o reencontrar entre uma multidão de peixes multicolores em ânsia de navegar.


Às vezes sonho o meu marinheiro dentro do mar eterno comigo nadar, nadar.


Às vezes sonho ser sereia e tu polvo com um abraço de mil braços.


Às vezes sonho uma estrela do mar a dizer segredos teus, do teu amor.


Às vezes sonho acordada e dou por isso. E sonho cada coisa mais impossível que a anterior!


 


MAR 1996



Já algum dia se questionaram acerca daquela suposta verdade que a profª primária nos dizia “se continuares a escrever nas mãos vais morrer de cancro na pele”. Qual a verdade científica disto?


This page is powered by Blogger.

on-line