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quarta-feira, dezembro 31, 2003


Se um dia o mar me disser para temer os outros na sua essência, não vou querer ouvi-lo por sempre ter acreditado em essências, por registarem a pureza que sou e são os outros, por saber que só somos verdadeiramente na nossa essência e não no aroma que ao de leve deixamos vaguear por outras vidas.
Porque nunca me vou deixar tocar ao de leve, faz-me viver o forte sentir...




terça-feira, dezembro 30, 2003



O que fazer quando na vida há tão poucas coisas das quais possa dizer, esta é uma certeza minha, no entanto passo a ideia aos outros que sou a pessoa mais segura deste mundo. Mesmo quando me entristeço com o gato na auto-estrada atropelado, ou quando olho directamente nos olhos do pedinte sem nenhuma da entre-ajuda que todos andamos a pregar, mas que nunca vamos lá e não disponibilizamos a nossa banheira para um pobre e reconfortador banho quente, àquela pessoa, igual a nós, um dia nós quem sabe.
Ou, quando os outros não nos amam como gostaríamos e então andamos todos a brincar às escondidas e aos sentimentos largados ao vento, fortuitos. Não quero que seja “a quem o apanhar”... gostaria que fosse tão natural quanto mútuo, quão menos doloroso possível e quão mais intravenoso e único exequível, pacífico, na paz de uma amizade crescente, qual onda chegando à beira da areia, qual grão pousado na vista plena de uma imensidão de praia. Qual amor, feito de chocolates quentes e tardes de passeios de calmaria por uma qualquer cidade revisitada a outros, quatro olhos, quais mãos de criança dadas, seguras na dos avós, qual namoro infindável e carinhoso, perpétuo, sem tempestades, nem furacões. Qual eu feliz, qual tu sempre... tu,...



segunda-feira, dezembro 29, 2003


Não te envolvas mais
afasta-te
vais-te magoar





Regresso voltando a mim



Confundiste-me as palavras, no meu sentimentalismo antiguado, voei em alguns momentos de outras realidades.
Desencontrei-me de ti ao encontrar-te perdido por entre as ruas de um bairro que não é o meu.
Não busco, não finjo, não nada, limito-me a ser eu e olho-te na espera de um abraçar genuíno que me agasalhe.
Perco as defesas, encontro-me no teu encontrar, se te encontrares...



domingo, dezembro 28, 2003



Um dia fui criança em baloiços, no jardim chamado de jardim da avenida da República e olhava de mansinho o meu avô, todos os Sábados e Domingos, que lia o jornal – fingindo que descansava, descontraidamente ou distraidamente – e eu sabia!
Um dia dei a volta ao baloiço, as cordas de ferro deram um esticão, bati com os pés num dos galhos das imponentes árvores lá em cima e rodopiei uma volta inteira, sempre agarrada, sofri o valente susto sob o olhar atento do meu avô que não se levantou e esperou que para ele corresse à procura do abraço calmante. Lembro-me do meu coração quase a saltar e eu a correr-lhe para os braços e o meu avô que já olhava por de cima dos aros dos óculos, ainda agarrava o jornal, naquela atitude de – nem penses que vais chorar a não ser que te tenhas magoado valentemente.
O meu avô ainda hoje é uma pessoa austera, mas um dia foi alegre e sempre rijo, lembro-me de ver nele um José Mário Branco, um João Vilaret, um Ary dos Santos, pois era quem punha toda a gente da minha mesa de Natal a rir, a gargalhadas despregadas.
Hoje em dia ainda o oiço com muita atenção, pois tem sempre histórias que, de facto, me interessam, histórias do seu passado, de um passado nem sempre fácil, mas que ele passa como se fossem coisas leves de uma vida que, embora tenha sido levada à séria, é levemente transbordada para histórias de encantar.
Um dia assisti ao grande humorista que vivia dentro do meu avô a ir-se, depois de um enfarte e da reforma de gerente de Banco de Portugal, não me lembro se por esta ordem. Estranhei o desaparecimento do modo de ser que eu mais admirava na vida, mesmo quando descobriu que o meu pai batia na minha mãe e o pôs fora de casa com a caçadeira em punho, carregada, à homem do Norte, não lhe estragou o humor. Mesmo quando a minha vóvó teve de retirar o útero antes que morresse por estar sempre a engravidar e seis meses depois a abortar, ficando quase sempre às portas da morte, o humor não lhe fugiu, mesmo quando teve de me deixar em Santarém com a minha mãe e ir para Évora por cinco anos, a minha avó chorou e ele disse até logo...
Um dia tive um avô de humor refinado e inteligente, respeitador das normas da sociedade mais rígidas, membro da Mocidade Portuguesa, admirador incrédulo de Mário Soares, apaixonado intelectualmente pela Maria João Avilez. Ingénuo e genuíno, mesmo depois de ter conhecido a maldade intrínseca, a meu pai.
Um dia deixei de poder dar-lhe aqueles abraços que tanto gostava porque ele mesmo se afastou dos outros e teve medo de prosseguir sentindo a vida a rir, sofrendo mais que os outros transmontanamente, por dentro, ferida a fera enclausurou-se e o chefe do clã que somos deixou-se passar para segundo plano, embora para mim seja ainda e sempre o supra-sumo máximo desta tribo, cujo apelido é reconhecido nos ouvidos de algum do Portugal longínquo, pela sua obra e marca deixadas, de um alegre e natural contador de histórias que um dia morreu algures...





Paixão:... desejo... nem sempre concretizável... forma de sentir por vezes fortuita, outras fortemente sentida... frustração de amor,... física.


sábado, dezembro 27, 2003


Os amigos são definitivamente a melhor coisa do mundo...


Friends are definitely the best thing in the world...


 


sexta-feira, dezembro 26, 2003


Vejo e recordo os meus amigos a dizerem-me palavras doces. Ouvi dizer-
-lhes que sempre despertei o amor em amores impossíveis, de que sempre acabava com o mais belo e mais desejado de todos os que me rodeavam. Digo-vos que nunca cobicei nenhum e que nunca ou, quase nunca senti que fui amada ou que amei como meus os amigos soletram aos quatro ventos. Mas, queria sentir, só não sei se serei capaz.


quinta-feira, dezembro 25, 2003


A melancolia que me enche o peito não é nem pessoal e nem transmissível,
é chata e aborrecida, não gostaria que a soubesses, mas nada me é fácil de
esconder perante um olhar mais atento.



Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus.

Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.

Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição,
são cruéis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.

Alves Coelho Filho


 



quarta-feira, dezembro 24, 2003


Isto de ser da província e ter internet, não me agrada. Gostaria tanto de ser daquelas terras em que nada há a não ser a televisão do café central, que nem sempre é tão central assim e onde sempre sabemos todas as notícias que cremos importantes e sobre as quais se discute no ali e agora daquela altura que é importante para todos eles que são os que podem estar presentes, porque a mobilidade ainda lhes permite.
Tanto eu queria ser uma rapariga de aldeia simplória, aldeia perdida neste mundo onde as pessoas ainda se sentam e conversam sobre os males da vida em pleno adro da praça pública e onde as pessoas se esforçam para ir à missa, não porque acreditam mas porque naquele sítio é onde encontram, mesmo que com oitenta anos, o amor dos quinze e podem de relance ver quem não escolheram no seu caminho curto de passagem para uma outra margem que nenhum de nós sabe qual é.
Queria tanto, às vezes, retornar e ser a minha avó e ter nascido a minha avó e ser a primeira mulher de Vinhais a entrar pela primeira vez no café só até então frequentado por homens e, ser o avô que consegue tirar o sétimo ano do liceu onde são raros os que o conseguem e poder dizer "sou objector de consciência", "sou contra o Salazarismo".
E poder defender acerrimamente um ideal e poder lutar por ele, de entre os montes até à capital para poder demonstrar a minha força e demonstrando pela minha presença, assim, toda a força que comigo trouxe lá dos confins dos sucalcos de um norte que já de muito pouco tem de isolado e perdido.
Isto de se ser o que não se é, sendo o que nos impõem ser, conseguindo dar pequenas mostras do que realmente somos, por entre os intervalos dos teatros e dos cafés hiper fashion, andar por entre as gentes nas lojas com as coisas menos utilitárias e prazentosas que à minha vista poderiam elevar-se, é muito mais complicado do que viver cinquenta anos de censura declarada e ter de contar os tostões para o meio-quilo de carne com os dois quilos de batatas que se tem de dar para as 7 irmãs, seus maridos, filhos e filhos a caminho.
É muito maior a dificuldade de se ser hoje, ser mesmo, ser eu mesma, demonstrá-lo e não ser mais uma entre um milhar às compras de natal numa capital de distrito plena de caras famosas e todas elas conhecidas, no bom dia e boa tarde repetido ao longo da jornada.



How to describe the strange feeling of being all by myself? Just like in "Out of Africa", by Karen Blissen.


terça-feira, dezembro 23, 2003


Quer eu queira quer não queira há-de haver amor e amores hão-de existir almas frágeis que não me seduzem e almas desalmadas que fogem de mim, qual pássaro em pânico de amor desencontrado em outros amores.



segunda-feira, dezembro 22, 2003


            A história de uma fotografia, de um olhar tímido, medroso de amor. Que mostra toda uma história que queria tanto contar. Que já não quero. Mas vou dizer.
            Nota-se tudo num olhar, num sorriso fotografado. Vê-se o quanto carinho existia naquelas mãos enlaçadas.
            Mas vou contar esta história desde o  inicio.
            Eram dois corpos e almas solitários, vazios no olhar, perdidos no mundo de tanta gente.
            Era um sítio, onde paravam, a olhar, a conversar com nada, de nada.
            Era a aproximação irreversível. Atracção, pura! Paixão muda!
            Eu escondia-me por detrás de um escudo infalível. Descoberta fácil para um rapazinho da vida, dos olhos de cor penetrante.
            Os seus lábios davam-me a ouvir sons belos. E a partir de certa altura, os seus olhos, discretos, procuravam por mim, pela minha presença. O seu coração chamava-me. Tudo a seu tempo, a união daqueles perdidos da vida, veio e como veio. Inseparáveis!
            Os olhares trocados eram os de um amor inocente e viril. Tudo à volta sorria. O impessoal  já não existia. As conversas surgiam do nada. E o rapaz a cada dia ia amando mais a menina, como ele dizia, de olhos meigos e coração apertado.
            Tudo estava predestinado. Eram um só. Eram porque já não o são, nem nunca voltarão a ser.
Ao fechar os olhos, já não sei se hei-de recordar os momentos de ternura se hei-de lembrar as rebentações de raiva e loucura.
Tudo era excêntrico. Não se podiam separar. Chorava porque eu chorava.
O homenzinho que de algum modo me fez feliz, hoje já não existe. O rapaz virou homem e o Homem é cruel.
Eu continuo a sonhar com o menino perdido, escondido pelos cantos de um mundo. De um mundo só nosso. Fecho os olhos e ainda vejo o meu menino a chorar pela menina triste e meiga, quase lhe toco, só que já fugiu, partiu! E não deixou nada.


MAR - 2000.


domingo, dezembro 21, 2003



Alô!
Me again!
Se tens paciência então eu vou-te contar!
O namoro acabou, mas não foi muito simples, pois não houve qualquer razão de conflito ou coisa parecida, acabou simplesmente porque tinha que acabar, ou porque já tinha acabado, sei lá!
A única coisa que me chateia é que na altura, ou seja, há 15 dias, fui apanhada de surpresa, pois não é costume, normalmente sei muito bem do que estou à espera, mas com toda esta confusão do estágio, tudo me tem passado ao lado, o que não é lá muito bom!! E eu não gosto, gosto de ter leves impressões, suspeitas e até certezas, de saber como estou e para onde vou, mas este ano não sei bem porquê a minha sensibilidade para essas coisas foi-se, talvez por falta de tempo em pensar nas coisas, em me aperceber delas e reflectir sobre elas, o que é facto é que a porcaria do estágio anda-me a estragar a vida e não é por ter acabado com o meu namoro, é o simples facto de me irritar solenemente não ter tempo para me aperceber de como estão as coisas comigo e à minha volta, e isso eu não admito a ninguém e nem a nada!!!
Aliás eu tive que aceitar a justificação dele, pois foi bastante racional, não quis ter filhos dele, as metas e os objectivos não são os mesmos, as coisas do dia a dia também não, os sonhos, os prazeres, etc., nada coincide, pode bem ser uma desculpa por parte dele, mas isso é problema dele, o que é facto é que eu me apercebi de que tudo isso é realmente verdade. Eu tenho pernas próprias para andar, não preciso nem nunca precisei de bengalas para ser feliz, dou-me bem comigo própria, mesmo sabendo que sou uma egocêntrica do caraças e que tenho muito mau feitio, tenho a sorte de mesmo assim as pessoas em geral gostarem de mim e de estar bem comigo própria e a sorte ainda maior, de para ser feliz, necessitar de muito pouco e a primeira premissa da minha felicidade ser a liberdade e depois os amigos, antes disto a família e só muito depois os namorados, se calhar não sou normal, mas sou assim e no meio de tudo isto foi a minha sorte, o eu ser assim, não me deixa/ou afundar com facilidade.
Que grande seca que te estou a dar.
E pronto, no meio dos possíveis é esta a minha explicação para um fim de 7 anos de relacionamento que mesmo não sabendo muito bem porquê, acabou e ainda sabendo menos porquê, não me arrastou para o fundo do barco.
Se calhar ainda não me apercebi bem do que aconteceu, por causa de estar atolada em trabalho, mas não creio, creio que me está a fazer bem e sei que tão cedo não quero e nem tenho paciência e tempo para me meter noutra a sério!
Estou bem assim, e modéstia à parte em 15 dias propostas não faltaram, mas não há pachorra!!!
Quero mais é estar bem comigo mesma e depois (daqui a uns belos tempos) logo se vê!
O único problema, é o natal, que estranho não é? O problema ser o natal, mas é muito simples, a minha família está obviamente preocupada comigo, o meu futuro, etc. e vou ter que os ajudar a entender o que nem eu entendo ainda, não há-de ser nada!
E pronto, não chateio mais!
É a vida, estas coisas no fim de contas são boas, fazem-nos crescer e amadurecer mesmo na dor, principalmente na dor!
Não digo que me tenha tudo passado completamente ao lado, se é essa a ideia que passei, está errada, é claro que da 1ª à 3ª semanas foi muito difícil, mas depois acordei para os meus alunos, para a vida, para a minha família e amigos e estou mais ou menos bem, é claro que há alturas do dia em que paro para pensar e fico triste, mas depois passa. Se calhar era mesmo este o caminho que eu tinha que tomar!
 
 
Beijos enormes,
 
Novembro, 31, 2002.


sábado, dezembro 20, 2003


As minhas manhãs de Sábado são sempre a confusão e o prazer de me partilhar entre a escrita, a leitura, a música em slow, ou a dança no quarto com a música em estilo ritmíco, no limear da loucura portanto, ainda uma apurada reflexão da minha semana com contornos de auto-crítica ou análise o menos freudiana possível e, os telefonemas aos amigos na saudade e de modo a almoçar acompanhada do mar com alguém.
Há semanas mais complicadas de acordar em mim que outras, há dias ensimesmados, há azuis acinzentados e há pessoas que me marcam na vivência pela surpresa ou alegria, ou mesmo na tristeza de mais um fim.
Mas o que mais me chateia-me, por vezes, é esta honestidade na necessidade da escrita, de transmissão aos outros do innerself – que é tão complicado.



sexta-feira, dezembro 19, 2003


Há dias em que sou azul,
só de me trespassarem os teus olhos.




Uma lembrança de mim aqui tens
nem que fosse esta folha e
um fio de cabelo meu, um
olhar distante num tímido sorriso.
Aqui tens para que no dia
em que eu me morra, tu
saibas que me fizeste falta
mas, também para que eu
saiba que no dia em que me for
de ti, morta e cremada
que eu veja o cair trémulo
de uma pura e minha
saudosa lágrima tua...



quinta-feira, dezembro 18, 2003


Pois que não finalmente, posso dizer que estou triste, não uma daquelas tristezas por algo em especial, estou somente triste, hoje e, não acordei assim, fiquei, se calhar fui ficando assim, sim provavelmente fui ficando ao longo do dia, como o dia que se foi fazendo cinzento.
Pois que não sei o que me fez falta neste dia, o que o faria menos cinzento, eu sei, sei bem o que era, mas nada posso fazer quanto a isso. Já quase que fiz quase tudo o que podia, inclusive o que não devia, o que queria fazer não fiz.
Pois que não é o mar que me falta embora também me falte numa luz de dia revoltado, como só ele o consegue ser, insatisfeito na busca de sabe-se lá o quê. Já quis sê-lo e não fui capaz, a incompreensão dos outros era total, ainda o é no parcial e ainda sou uma estranha para muitos.
Pois que não queria que este dia tivesse passado em branco mas passou, qual rotineiro, mais um dia e assim ficou-se cinzento e cada vez a escurecer mais e ainda mais até à hora em que apagarei a luz e tentarei adormecer sem pensar no olhar que me deste e no que não te dei de volta...




amor
..................................................................................................................................................

do Lat. amore

s. m.,
viva afeição que nos impele para o objecto dos nossos desejos;
inclinação da alma e do coração;
objecto da nossa afeição;
paixão;
afecto;
inclinação exclusiva.



quarta-feira, dezembro 17, 2003


Princesa porque esperas?
Pelo mar, de um amar salgado
Revolto, salpicante, imenso
Maré que enche e esvazia
Mar, amar penetrante
De um azul perturbante
 
Princesa porque demoras?
Compreende o Mar, Amar demais
Revoltado, retorna à praia
Recomeça a onda, sobe e desce
 
Princesa porque é assim teu coração?
Esperas a ilusão?
Chegarias perto de mim?
Molhar-me-ias os pés descalços?
Tocarias o cabelo solto ao vento?
Agarrarias esta alma perdida?
Irias dizer ao Mar todo o Amar?
A dor feliz de me provares e gostares?
 
MAR
02.08.95




Amor vadio
Por onde andas
Abismos nus
Becos e ruelas
 
Amor vadio
Traição maldita
O fim que vem
Não volta mais
 
Amor vadio
Assim que eu amo
Por onde andas
Que não te vejo
 
MAR
01h06m
28.06.95



terça-feira, dezembro 16, 2003



Sei que posso contar contigo, sabes bem que, podes contar comigo.
Tu casaste e nós nunca nos despedimos, mesmo assim continuamos amigos, distantes mas, amigos.
Será que o longo abraço que daríamos, sem uma lágrima, faltou a mim, a ti, só a mim?
Ou será que um de nós o dará a um amigo comum a pedir conforto pela, quem sabe, morte, de mim ou de ti, um dia?



segunda-feira, dezembro 15, 2003


Há uma pequena coisa que me intriga nos blogs... se estão mesmoooooooooooo a falar a sério, ou se estamos todos somente a lutar pelas "audiências" e, aí - perdoem-me - faço a minha vénia e declino o convite. Prefiro de longe a honestidade e a verdade às estatísticas medidas pelas palavras que aqui se ditam.



Porque ainda não te tinha falado de ti aqui.
Porque ninguém te conhece como eu.
Porque me foste importante.
Porque por ti, até hoje, depois de dez anos, ainda guardo uma melancolia da dor que te causei intempestivamente.
Porque eras lindo e me amaste como nunca mais ninguém amou.
Porque chorei muito quando sozinha resolvi que o nosso caminho parava ali.
Porque estivemos juntos nos piores momentos da minha vida, onde quase ninguém esteve, porque nunca mais na vida conheci quem sofresse a minha dor como tu, mesmo que por vezes não a compreendesses.
Porque tinhas os olhos azuis mais penetrantes que algum dia me olharam daquele modo.
Porque ainda hoje se me olhares vou tremer de medo, de amor escondido e atracção.
Porque esta atracção, ainda viva, só a dedico a ti.
Porque por ti nunca mais consegui olhar desigual os outros olhos azuis que passam pela minha vida – acabando nem eu sei porquê por me meterem igual medo.
Porque para mim ainda és o menino bonito e inocente que chorou por e comigo, ter partilhado a virgindade e, que nunca teve medo de tremer e dizer o medo de tanto me amar.
Porque nunca mais vi a tua crença em mim, em ninguém ou, a tua sinceridade.
Porque a continuidade dos amores após teres passado pela minha vida nunca mais foram aquela entrega da tua vida nas minhas mãos e da minha vida protegida pelo teu doce coração.
Porque posso parecer piegas, ao reviver-te em sonhos, mais ou menos, escaldantes.
Porque eras péssimo na cama, mas nunca o soubeste, porque eu te amava e essa tua aura gentil e carinhosa se conseguiu sobrepor, mesmo à tua obsessão da posse por mim.
Porque um dia me pediste que casasse e tivesse filhos teus – porque querias muito - e eu disse que não.
Porque não sei se tens filhos, na última vez que te vi não, mas sei que casaste, quiseste um dia que a fosse conhecer e eu disse que não.
Porque não sei se és feliz, mas ainda me lembro que estás quase a fazer anos.
Porque não sei se me odeias, pelo que te fiz sofrer, só me lembro-me da última vez que me falaste, talvez há uns cinco anos em pleno supermercado, arrepiaste-me um sussurro ao ouvido “ainda linda e sempre a ler”, porque me senti no céu e só faltou o abraço, porque na despedida me disseste o que sempre me dizias outros cinco anos atrás “cheiras tão bem”.
Porque se calhar tínhamos sido felizes a vida toda e eu, para não variar, estraguei tudo.

MAR.
14.12.2003.




domingo, dezembro 14, 2003


Os comentários ainda não estão a funcionar. Calma,... calma...

You are so beautifull to me

You are so beautifull to me, can't you see?



Joe Cocker



sábado, dezembro 13, 2003


E porque quase chorei hoje a partir das dezassete horas, na última apresentação, cá vai, para que um dia possam ir também e sentir o que senti:

 

A Culturgest e o Teatro Nacional de São Carlos, numa co-produção, apresentam Tristan und Isolde precedido de obras de compositores influenciados pela revolução wagneriana: Henri Duparc, Debussy, Schönberg, Messiaen e Ernest


sexta-feira, dezembro 12, 2003

 




Sento-me e sinto-me junto à empolgante, invulgar e imponente lareira
Revejo o presente e o futuro do que nós fomos
de trás para a frente em passos galopantes
O que podíamos ter sido um dia é o que somos
um com o outro, somente difere estarmos separados
E parece quase verdade, parece quase semelhante
Assemelha-se a uma ilusão, só que a sinto por horas
neste ser e não ser sem questão nenhuma.

04.12.03
03h21m
MAR




quinta-feira, dezembro 11, 2003

Pretendeste que te abandonasse, pois que me tens aqui e quase que consegues o que quiseste.



Tudo está demasiado lento e fugaz para o meu gosto... a vida, os outros já quase não me espantam...
Hoje estou algo provocadora.
Não quero a queca ocasional, há sexo à solta aos jorros para que deseje somente isso...



terça-feira, dezembro 09, 2003

Estou desiludidada com o mundo, triste e enfadada, mas principalmente desiludida com os outros...



Ontem,...
Ora, depois de muita chuva e nevoeiro, e "piso molhado, abrande", lembro-me de ter pensado ao longo da viagem, "não, não queremos contar para as estatísticas", só porque fomos um de mil a ir à Serra da Estrela, porque à Nevada nunca achei piada, lá não encerram as estradas por falta de meios ou preguiça de limpeza das mesmas e as lareiras deles não dão tanto trabalho como as nossas...
Recordo pensar, "não vejo um palmo à frente dos olhos", mas valeu a pena.
Enfim, três dias bem passados com as loucuras dos nossos amigos. Gosto de acordar e ver a minha rabujice encarquilhada no colo dos outros que estão como eu, com o subtil e honesto humor da manhã ressacada. Os amigos valem sempre a pena. Fez-me mesmo muito bem esta pausa, em três geografias diferentes.



segunda-feira, dezembro 08, 2003

  Eras longe.


Por isso a lua cortada.
 
Por isso ou nada
todos os dias.
 
Eras longe.
 
Eu não sabia.
 
Eras longe veios de água
cortavam água partida.
 
Cães de tristeza lambiam
este abandono de tudo.
 
Dedos cerrados
abriam luzes no escuro.
 
E harpas de esperança mentiam
de um lado ao outro do dia.
 
Eras longe.
 
Eu não sabia.
 

  Maria Emília Sá



 


                                                                                                                                     Amar


 
 
 Eu quero amar, amar perdidamente!
 Amar só por amar: aqui... além...
 Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
 Amar! Amar! E não amar ninguém!
 
 Recordar? Esquecer? Indiferente!...
 Prender ou desprender? É mal? É bem?
 Quem disser que se pode amar alguém
 Durante a vida inteira é porque mente!
 
 Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
 Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
 
 E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
 Que seja a minha noite uma alvorada,
 Que me saiba perder... pra me encontrar...
 


Florbela Espanca


sexta-feira, dezembro 05, 2003

Uma amiga minha, tiazérrima, com tendências bi e um namorado engenheiro do técnico que me adora, tem uma teoria antiga acerca da minha pessoa: nunca eu vou ter uma relação hetero de sucesso por procurar sempre pessoas complexas, com vidas complicadas, reacções não explicadas em nenhuma ciência e de preferência indisponíveis para amar, na gíria, os chamados intelectuais sacanas e garanhões charmosos e de sucesso pela via do pensamento. Tem ainda uma outra teoria, complementar à anterior, que as pessoas fáceis e lindíssimas, descomplicadas, cuidadosas, inquietas e apaixonadas pelos outros e não pelas letras nunca vão conseguir nem chegar perto de mim.

Acho que vou até à Serra pensar nisto...


Não sei sequer se escreverei, a escrita não se pressiona, flui ou, não flui.


quinta-feira, dezembro 04, 2003


 "Depois de sairmos da casa, deixaste de me procurar. Creio que te fazias encontrado comigo, mas como eu também me fazia encontrada contigo, nunca cheguei a ter a certeza de que, de facto, me procuravas"

Inês Pedrosa, in "Fica Comigo esta Noite", 1ª Edição, Novembro de 2003, Lisboa.


quarta-feira, dezembro 03, 2003


Até que a morte nos separe... até que a saudade nos arrebate...
Estaremos vivos enquanto soubermos e sentirmos que nos sentem e nos sabem e que alguém nos ama e nos quer. O factor estar vivo perante isto será o menor de todos os pormenores.




Recado I

Saudades... de te ouvir o silêncio, saudades de me quereres aconchegar em ti!


terça-feira, dezembro 02, 2003

Desisti há uns anos das duas únicas coisas importantes para mim, na vida, hoje vou falar só de uma, ninguém que leia isto irá entender o porquê no seu pleno, porque quem entende nem sabe que escrevo, porque nunca calhou dizer, porque em geral não digo, porque sou mais fala-barato que intimista, incisiva e reflexiva com os meus amigos, os poucos que sabem não estiveram incluídos no doloroso processo, esse porque passei, talvez um ou dois tenha a vaga ideia de que algo em mim mudou profundamente desde então, mas não mais que isso.
Doeu-me desistir de pessoas, pequenas pessoas, mas já pessoas, indivíduos, que tanto tinham a aprender, que tanto queria ensinar.
Sabem quando somos (na gíria) de modernas e quem nos “orienta” é de clássicas? Sei, que não sabem, mas imaginem opostos.
A dor de cabeça foi um início que se prolongou por seis meses e meio, durante os quais existiram muitas turras, algumas ficaram em acta de grupo, durante os quais, acabei de dar cabo do que rodeava a minha vida profissional, desde o amoroso ao sentimental, passando pelo familiar, durante os quais, a média diária era de três horas de sono mal dormidas, à pressa. Compreendi finalmente aos vinte e três o sentido da frase “dormir à pressa” que anteriormente me teria parecido tão descabida.
Foi o ano que mudou a minha vida radicalmente, foi o segundo pior ano da minha vida, porque nunca desisti de nada, porque nunca senti em mim até esse ano que fosse não-capaz de levar algo até ao fim, de desistir, de entregar realmente os pontos, de dizer de mim para mim, verdadeiramente “levem lá a bicicleta, por favor e não me chateiem mais, que não aguento nem mais um minutinho disto”, porque não admitia essa capacidade em mim, porque sempre recebi os maiores elogios vindos das pessoas em quem mais acreditava e que mais respeitava, da praça das letras, lembro-me de um professor catedrático a chorar, lembro-me de uma chefe de departamento ter ficado grande amiga minha pelo modo de transmissão das minhas ideias, lembro-me das cabeçadas com um monstro da literatura inglesa que acabou a dar-me os parabéns no último trabalho de faculdade que defendi oralmente e, nunca pensei ter de me provar aos outros, nunca pensei que alguéns pudessem pensar em simultâneo que eu poderia valer tão pouco.
Nunca antes necessitei de dizer, sou boa nisto, creio, porque certezas é uma coisa que tenho muito pouco, embora faça transparecer que as tenho todas, sempre me avaliaram de acordo com aquilo que eu achava que valia e isso era para mim tido como um mérito, o não ver e sentir injustiças, o não ser prejudicada pela impulsividade ou cor política, porque o que dizia, acabava a fazer sentido aos ouvidos mais difíceis.
Lembras-te Paula dos cafés-poesia e da adesão das caras políticas, literárias mais e menos incógnitas deste país, dos convidados que nos chegavam e que nós só conhecíamos de os ler e das palmas, dos sorrisos, dos regressos a essas tertúlias, que deles recebíamos, qual quase silenciosa aprovação do nosso trabalho-amor-lazer?
As tardes inteiras que passámos sozinhas com a Clara no nosso departamento, onde toda a gente tinha medo de ir, a usar o telefone do Sr. Doutor, imponente e temido, a telefonar para o Urbano, a dizer “...vamos buscá-lo se quiser...”, mas nunca foi preciso, ele acabava sempre por aparecer e trazer de atrelado, um Jacinto Lucas Pires, um Saramago, um Mia Couto, sei lá quem mais...
No fim disto tudo e em simultâneo com a pós-graduação deparei-me com os licenciados mais iletrados desta cidade, capital, mais insensíveis, mais fechados à renovação, com medo, enclausurados no seu conservadorismo cómodo de meia-idade, foi uma época dura, fria, cortante, no fim dela dei por mim a telefonar a amigos meus questionando se me achavam burra, desviante, se achavam que eu tinha limitações, se era má na faculdade, sei lá as perguntas estapafúrdias que tiveram de me aturar tal era o nível de insegurança a que umas senhoras ditas moderadoras me levaram.
Desisti nesse ano do essencial de mim, do que sempre achei que seria em mim natural e uma vocação.
Apesar dos abaixo-assinados vim-me embora.
Apesar de Luís de Camões receber aplausos pelas minhas declamações deixei de acreditar em mim.
Apesar de “meter crianças” a fazer teatro de sombras, escrever poesia, toxicodependentes cuja única aula a que assistiam era a minha, o dealer de quinze anos que só permanecia no meu Inglês, chumbado a todas as outras disciplinas.
O Luís apaixonado carregado de dicionários da Língua Portuguesa comigo até à biblioteca da escola, incansável, o Gonçalo embirrento comigo e mau feitio que me confessou um dia ser assim por defesa e protecção dos outros, a Maria inteligentíssima e voluntariosa que não me gramava nem à lei da bala, mas que no fim me defendeu com unhas e garras. O Hélder que deixou de ser virgem e chorou à minha frente porque não queria, queria voltar a ser como era, assustado.
E eu um dia, depois de cento e oitenta dias a dormir as curtas três horinhas, dirigi-me calmamente à secretaria da universidade e perguntei “onde rescindo?”, com as lágrimas a virem-me aos olhos, a família toda contra mim, o namorado farto de me ajudar, vendo-me em grandes apuros, físicos e psicológicos, a mãe muito preocupada com o meu cansaço visível e as minhas aulas a irem todas para trás porque o meu método não era o pretendido. O acidente na auto-estrada por estar fora de mim. Uma aula entregue três, quatro, cinco vezes toda refeita de novo, a minha cientificidade posta de lado, o meu estado tal de chegar a discutir gramática com quem nada entendia de tal norma da língua, como é possível?
Como ninguém questionou que num núcleo de três pessoas, duas desistissem, como ninguém perguntou se estas três meninas ficaram na terceira melhor escola da cosmopolita cidade, quando somos colocadas por nota, logo fomos das nove melhores daquele ano, como desistem duas de seguida? E porque é que os alunos de uma organizam abaixo-assinados e ao tentar enviar o mesmo ao ministério o conselho executivo abafa-os e não envia nada?
Como existem neste país pessoas licenciadas – supostamente acima do Q.I. da média - capazes de me ameaçar fisicamente à frente de uma turma de sétimo ano, crianças, algumas inocentes que não tinham de ver tal cena deplorável?
Hoje em dia tento não levar o trabalho tão a sério, estabeleço uma base de nove-dezoito e venho-me embora, mas inconscientemente isto dói-me porque não sou assim, porque não me importo de trabalhar dezasseis horas, discutir pontos de vista, abstracta e prática, concluindo aquilo a que me proponho. Hoje em dia, de segunda a sexta são dezoito e cinco e venho-me embora com um vazio em mim, não com aquele sentimernto de tarefa terminada com sucesso, porque lido com pessoas mas não no sentido humanitário que sou eu naturalmente. Tornei-me fria profissionalmente, coisa que nunca fui. Cumpro, nada mais que isso, mesmo sendo o braço direito de quem me chefia, mesmo recebendo os tratamentos mais complexos por confiança, mesmo que a minha avaliação já tenha sido inúmeras vezes das melhores e tenha recebido grandes elogios, não penso em pensar em trabalho quando saio de lá, mesmo porque já não o amo.

01.12.03 – 2h10m



segunda-feira, dezembro 01, 2003



Ouvir-te fez-me um dia querer acreditar
Ler-te levou-me a deixar-me ir contigo
Olhar-te impeliu-me a não raras vezes escrever
Sentir-te foi o céu no limite, inatingível
Ver-te foram sonhos de reinos encantados
Desejar-te nunca quis em noites de outros idos
Hoje nada mais és que uma lembrança dura
dolorosamente guardada e crua na sombra
Anuncio e acuso-me
longe só te quero longe.

MAR
01.12.03
01h31m



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