<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, janeiro 30, 2004

 



Sabes quando a dor de te magoarem já não é dor porque é hábito e o diferente é seres precioso?
Quando a desilusão dos outros já nenhuma surpresa em ti despoleta?
Ou, a não demonstração prática e real do carinho em situações mais críticas já não é por ti exigida, porque o esperado é sempre muito menos?
E além de tudo isto, ainda assim, em raras vezes, continuas a acreditar que o amor, a felicidade, a fé nos outros, a bondade sem retorno, ainda existem?
Sabes?
Mesmo que o mundo e os outros, todos os dias, dia após dia te demonstre, prove, marque, exactamente o lado negativo, o oposto ao que querias acreditar?
Sabes?




quinta-feira, janeiro 29, 2004

O MOSTRENGO  



mostrengo que está no fim do mar 
Na noite de breu ergueu-se a voar; 
A roda da nau voou três vezes, 
Voou três vezes a chiar, 
E disse: «Quem é que ousou entrar 
Nas minhas cavernas que não desvendo, 
Meus tectos negros do fim do mundo?» 
E o homem do leme disse, tremendo: 
«El-Rei D. João Segundo!» 
«De quem são as velas onde me roço? 
De quem as quilhas que vejo e ouço?» 
Disse o mostrengo, e rodou três vezes, 
Três vezes rodou imundo e grosso. 
«Quem vem poder o que só eu posso, 
Que moro onde nunca ninguém me visse 
E escorro os medos do mar sem fundo?» 
E o homem do leme tremeu, e disse: 
«El-Rei D. João Segundo!» 
Três vezes do leme as mãos ergueu, 
Três vezes ao leme as reprendeu, 
E disse no fim de tremer três vezes: 
«Aqui ao leme sou mais do que eu: 
Sou um povo que quer o mar que é teu; 
E mais que o mostrengo, que me a alma teme 
E roda nas trevas do fim do mundo, 
Manda a vontade, que me ata ao leme, 
De El-Rei D. João Segundo!» 


  


Fernando Pessoa, Mensagem - Mar Português.



quarta-feira, janeiro 28, 2004



Muitas vezes
alcancei o sorriso de alegria
Demasiadas vezes
não abracei a quem devia
Algumas vezes
beijei quem me queria
Por vezes
fugi e não amei
Em todas as vezes
me lembrei de um ti que não é
Em cada vez que quase morri da saudade tua
recolhi-me ao meu recanto e fechei a porta...
para que ninguém me visse assim encolhida na espera...



MAR em 27do01de2004


terça-feira, janeiro 27, 2004



Às vezes sem nos darmos conta eis que morremos
Mesmo sem nada o despoletar, mesmo que não queiramos
Às vezes é urgente apaixonarmo-nos,
Às vezes temos de ser egoístas no viver
Mesmo que seja um sorriso que deixámos de dar
Às vezes sou menina pequina a precisar de um colo
Mesmo que saiba que já não sou menina
Às vezes sonho contigo e não sei de onde me vens
De que fundo de alma, de que dor perdida
De entre que gentes, surges sem pesadelo do meio da multidão
Às vezes queria que partisses e não mais voltasses
Mesmo que sem amor, encontrasse a só minha, solidão
Mesmo que a alegria de amor não voltasse,
Mesmo que esta paz, sem ti, significasse alhear-me
Às vezes ainda quero amar, mesmo sem acreditar
Às vezes sem sonhar acordo e deparo no vazio do meu quarto...


 


MAR em 26do01de2004



segunda-feira, janeiro 26, 2004



Entro pela noite sempre a cantar a mesma canção
sonho sempre o mesmo sonho de Verão
sonho com o rosto cansado das estrelas
a milhas de distância como as nossas mentiras.



MAR     1997




domingo, janeiro 25, 2004


Não sei...

 


Não sei se quero saber que faço aqui
Encontrada comigo mesma enganando o sono
Numa falta precisa de um ti solitário
Não sei se será bom isto que sinto, especial afecto
Nos dias, constante, uma ânsia de te querer
Um não desejo forte de não poder apaixonar-me
Não sei que estarei para aqui a pensar em ti
Relembrando o olhar profundo, o beijo
Uma mão na mão, um estar, uma saudade
Não sei anoitecer na tua indizível ausência
Um quase triste mas feliz pensar, sentir
Estar no vazio de ti, ficar assim só eu, acolá
Não sei como te contar a profundidade
Que no meu peito sangra, vagarosamente cortante
Baixinho vai inquietamente chorando
Não sei como te fazer escutar o silêncio
O meu desvanescer qual sentimento definhado
Na dor de não me quereres como te quero
Não sei suportar tamanho peso dentro de mim
Instante prolongado num sem ti incessante
Na acesa paixão que não te posso querer assim
Não sei voar e caminhar e respirar-te longe
Arquitectando essa falta num temor de ilusão
No engenho de verdadeiros mil prazeres atormentados
Não sei ser labirinto, apetite, sede, onda, pobre de amor
Nem simpatia de afeição, nem talento subtil insaciável
Nem sei ser a de mil modos ausente enamorada
Não sei dizer o amar, só sei falar, não dizendo, amando
Eternizar este fogo apaixonado em pessoa pequenina
Desproteger-me na beleza de velhas caminhadas amantes
Não sei arrancar de mim a necessidade de ser amada
só sei palavrear a matéria de amor em versos defeituosos
serenamente emocionar-me em força cega e invísivel
Não sei ser o que não sou, nem dolorosamente ser feliz
Assim permaneço imóvel na tua espera escondendo-me
Por detrás da ternura indestrutível confiando num futuro
Não sei querer fingindo não querer, sorrir não alegrando
Estar não estando, ficando por ficar, amar pequenino
Só sei amar, amando, sorrir, sorrindo, estar, ficando
Querer, querendo, sentir, sentindo, viver, vivendo
Tocar, tocando, desejar, desejando, ter, possuindo...



 


MAR             25do01de2004


sábado, janeiro 24, 2004



O verdadeiro amor é uma amizade que se incendeia.



J. Taylor.



Tu tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas.



Saint-Exupéry


quinta-feira, janeiro 22, 2004



Num mar sem sal
Numa vida sem cor
Num lápis parado na espera
Numa cidade fantasma
Num copo expectante
Numa onda ausente
Num beco em neblina húmida
Numa mesa de bar abandonada
Num desejo que fica
Num beijo que vem e vai
Num pedido remanescente
Numa saudade cortante
Num abraço cadente
Numa ausência não querida
Numa dor pequenina
Num colo suave
Numa despedida constante
 
Aquele que na noite e no dia me persegue
Pelas cartas ou nos versos menos limpídos
Aquele que mais me une mais me desespera
De algum tempo etéreo, de nenhum final à vista
Nem início, nem de ti, nem de mim, sem palavras
Aquele que mais me ondeia e me não vê
És tu, naquele mar intenso, outro que não meu
És tu o alento, a dor e a alegria ausentes de mim
És tu que assim como quem quer alguém
És tu na vaga e no horizonte, na vida, no além
Aquele que amaria com deleite e prazer inesgotadamente
É em ti que me perco nas tardes a olhar o nada
E o tudo o que em ti desejo que em nada vem, em nada vejo
Aquele que não há-de nunca ser para mim
O sal do meu olhar
A água que bebo insaciável
A caneta que agarro apertada
Os acordes que me enchem a alma
O toque profundo
A chuva estonteante
O cais de desembarque onde quero atracar
Em que sou espera, não esperando
A querer sem querer
Ficando não estando
Nas noites por aí de nenhures
De um ti que não existe
Num só enquadrante em mim
Porque sem ti, na tua ausência
Nenhum sorriso será sincero
Nenhuma manhã ansiarei acordar
Nenhum vento me levará
Nada é, nenhum sentir fará sentido
És tu que vou sentar e olhar perdidamente
És tu que me fica na pele o cheiro
És tu que penso e escrevo pedinte
És tu que me acendes a paixão e me tocas no silêncio
És tu, aquele que se faz presente, na urgência aflita
O primeiro passo que brilha e me encandesce sem querer.
 


MAR      em   22do01de2004




Despenalização do Aborto

Bom dia! Temos dois problemas, o primeiro é que os senhores doutores que fazem as perguntas neste país não sabem o que é ter a 4ª classe e não sabem que o "como escrever" determina o "como ler", o segundo problema é que mesmo quem é pela despenalização do aborto, é-o nos outros, porque ao próprio não o vemos como consciente e nem queremos, mas quando o governo nos obriga a pensar nisso e nisto desculpem o egoísmo, principalmente as mulheres, auto-penalizam-se até à quinta casa, o que resulta num problema de consciência em que temos de votar pela hetero-consciência de mães que querem abortar... sou a favor da despenalização, da liberalização das drogas leves, da liberdade de expressão e burocrática mas se me pedem para decidir penso nos outros... os outros não têm as nossas permissas, e numa visão muito pessimista, pondo a questão a um limite demagógico, há quem aborte por razões economicistas, estéticas, ou de falta de amor ao próximo, egoistas portanto. E pensar pelos outros é uma decisão daquelas que não nos deviam pedir...






Procuro a busca de te encontrar no encontro
das flores que florescem a ouvir chorar o choro.
Sussurram-me murmúrios voando com os pássaros ao vento
e eu não oiço, não vejo o fim, já não busco ao encontro da vida.
Choro pelo vento do mar, sussurro às flores o meu choro
e não oiço a morte a chegar.


199...





Fui até ao fim de um mundo num grito de vestes negras
num só luto mergulhei até ao fundo do mar, me afoguei.
O mar reclamou de tantas mágoas que assim lhe entreguei
e tantas outras cores, tristezas, e desse imundo luto
não desapareceram nas águas, não morreram, não desvanesceram.

199...


quarta-feira, janeiro 21, 2004

Eu Sou…


 



Eu Sou…
A porta fechada que não abre
a água que não corre
o pássaro mudo que já não pia
o poema que jamais lerás
o sentimento que não passa, marca
o frio que tu não vês, sentes
o Sol que se está a pôr
a criança que dorme e sonha
o monstro que só eu sei recriar
sou tudo aquilo que tu não queres ser
sentir, querer, gostar, saber
sou um pedinte de rua.
Desconhecido, homem ou mulher, não importa.
Sou a criatura que só sabe amar!


1995






Vou-te ser muito sincera!
Estou destruída por dentro
Estou sofrida, magoada
um resto de tudo o que existiu
em mim e já não existe
sou alguém que não é ninguém
sou agora aquilo que nunca fui
sou um choro brutal de uma criança
que chora e chora de tanta dor
e não é medo do escuro
não é medo de ninguém!


1994




terça-feira, janeiro 20, 2004




Se tanto me dói que as coisas passem

 

Se tanto me dói que as coisas passem

É porque cada instante em mim foi vivo

Na busca de um bem definitivo

Em que as coisas de Amor se eternizassem

 

                     Sophia de Mello Breyner Andresen


 



Amar


 Que pode uma criatura senão,
 senão entre criaturas, amar?
 amar e esquecer,
 amar e malamar,
 amar, desamar, amar?
 sempre, e até de olhos vidrados, amar?
 
 Que pode, pergunto, o ser amoroso
 sozinho, em rotação universal, senão
 rodar também, e amar?
 amar o que o mar traz à praia,
 o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
 é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
 
 Amar solenemente as palmas do deserto,
 o que é entrega ou adoração expectante,
 e amar o inóspito, o áspero,
 um vaso sem flor, um chão de ferro,
 e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
 
 Este o nosso destino: amor sem conta,
 distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
 doação ilimitada a uma completa ingratidão,
 e na concha vazia do amor a procura medrosa,
 paciente, de mais e mais amor.
 
 Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
 amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


                                                                                          Carlos Drummond de Andrade


segunda-feira, janeiro 19, 2004



Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.


Mia Couto - Cada homem é uma raça



domingo, janeiro 18, 2004



Já fui gélida pequena pessoa e sobrevivi a tal dor renascendo
Já quase morri diversas e talvez demasiadas, as vezes
A mim já me combati, contra mim mesma fui, nalguns momentos
Agarrei-me mais tarde à vida e, nasci num meu ser triste e vagueabundo
Tremi de ti e de mim, na garra de querer não mais sofrer, só ficar
Já não sou a tua previsão, o teu céu sem pássaros, a palavra sem liberdade
Quis morrer um dia quebrante não apetecendo mais assim, acolá, voar
Nos últimos tempos sou olhar profundo em mim regressando, ao meu planeta
De quando em quando inentendível, trespassando, sublime, querendo o beijo
Na manhã ao anoitecer penso-te e sei-me provocadora a necessitar, o amor que já não vem.
Pois que não virás, nem no ocaso, nem ao nascer do sol, não pisando a areia no caminho para mim.


MAR

18do01de2004


 




"Mother"



Mother do you think they'll drop the bomb
Mother do you think they'll like the song
Mother do you think they'll try to break my balls
Ooooh aah, Mother should I build a wall
Mother should I run for president
Mother should I trust the government
Mother will they put me in the firing line
Ooooh aah, is it it just a waste of time
Hush now baby don't you cry
Mama's gonna make all of your
Nightmares come true
Mama's gonna put all of her fears into you
Mama's gonna keep you right here
Under her wing
she won't let you fly but she might let you sing
Mama will keep baby cosy and warm
Ooooh Babe Ooooh Babe Ooooh Babe
Of course Mama's gonna help build the wall

Mother do think she's good enough for me
Mother do think she's dangerous to me
Mother will she tear your little boy apart
Oooh aah, mother will she break my heart
Hush now baby, baby don't you cry
Mama's gonna check out all your girl friends for you
Mama won't let anyone dirty get through
Mama's gonna wait up till you come in
Mama will always find out where
You've been
Mamma's gonna keep baby healthy and clean
Ooooh Babe Ooooh Babe Ooooh Babe
You'll always be a baby to me
Mother, did it need to be so high.


Pink Floyd



sábado, janeiro 17, 2004




Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
 
Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
 
Seja eu de novo tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
 
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono
 


Mia Couto - Saudade





Give me a kiss and I will give you one back. We both leave with a kiss. But give me your love and I will give you mine and we will leave with....



sexta-feira, janeiro 16, 2004



O peso das palavras quando não estamos dispostos a mais que meras palavras torna-se demasiado pesado para quem as ouve.




(...) porque amei sem querer começar sequer a amar ...



quinta-feira, janeiro 15, 2004



O beijo que não me dás seriam os beijos que me deste quando não nos zangávamos por quem não perece a vida em beijos.




Não quero envelhecer
não quero deixar de escrever
não quero deixar de saber
a sabedoria que só esta idade dá.
A inocência do saber
dia após noite,
desconheço mais um pouco desse saber.
Perco-me no meu escrever.
Não quero!
Grito! Acabo por me resignar
à perda preciosa, de mim.
Fujo. Choro. Pego na caneta e nada.
A folha em branco
chora a minha ausência.
 
A fragilidade da mente
é essa e única.
 
Acabo por ver e perceber
perdi toda a real sabedoria.
 
A que importa, a que ama
o velho, o pobre.
Perdi a minha escuridão.
Perdi-me a mim na tua esmola.


1995



quarta-feira, janeiro 14, 2004

Susto I


Por vezes
assusto-me com a capacidade que tenho de me assustar.


Susto II


Às vezes
assusta-me a incapacidade que possa vir a ter um dia de atentar e cuidar de mim mesma.


Susto III


Por vezes
pretendemos que nos assustem, se não o fazem, assustamo-nos a nós mesmos com terrificantes premonições das catástrofes que poderão um dia advir, atingindo-nos como um raio electrificador. Acabamos a procurar o que perante tal gigante susto, nos paralise.




Entro pela noite sempre a cantar a mesma canção
sonho sempre o mesmo sonho de Verão
sonho com o rosto cansado das estrelas
a milhas de distância como as nossas mentiras.

1997



terça-feira, janeiro 13, 2004



Procuro a busca de te encontrar no encontro
das flores que florescem a ouvir chorar o choro.
Sussurram-me murmúrios voando com os pássaros ao vento
e eu não oiço, não vejo o fim, já não busco ao encontro da vida.
Choro pelo vento do mar, sussurro às flores o meu choro
e não oiço a morte a chegar.

1996



segunda-feira, janeiro 12, 2004


Não sou um mundo estranho,
Sou aquela que não quer ser vista por mais ninguém,
Se me desejas, quero-te...




Oh, se eu quisesse
vem
Realmente amasse
corre
Estaria aqui e não agora
destrinça-me
Pisando para ti o teu chão outonal
abraça-me
Fazendo-te acreditar na minha Primavera
sorri-me
Desceria até ti, encontrando-te
sente-me
Porque assim podia ser que pudesse ser feliz
encontra-me
fica-me.



domingo, janeiro 11, 2004


Saudades trago comigo


 


 


Saudades trago comigo
Do teu corpo e nada mais
Pois na lei por que me sigo
Não tenho pecados mortais
Pois na lei por que me sigo
Não tenho pecados mortais
Talvez tu queiras saber
Porque em vida já estou morto
São apenas, podes crer,
as saudades do teu corpo
São apenas, podes crer,
as saudades do teu corpo
E tu o que sentes por mim,
desde essa noite perdida
Sentes esse frio em ti,
que eu sinto na minha vida
Sentes esse frio em ti,
que eu sinto na minha vida
Eu sei que o teu corpo
há-de sentir a falta do meu
Por isso eu tenho a saudade,
que o meu corpo tem do teu
Por isso eu tenho a saudade,
que o meu corpo tem do teu.


 


Camané



 


sábado, janeiro 10, 2004



 Não era o mar que desta me puxava para dentro dele
 não era nem a vida que me sinalava como uma qualquer escolhida
 não era a música inspiradora de Cale ou de um qualquer latino
 não era o marinheiro de olhar azul e profundo que me tocava.
 não mais era assim, eu mudara e as ondas comigo desiguais
 não mais queria amar assim sem ser amada de modo igual e unívoco
 não mais eu era para ti a sereia das visões apaixonavelmente risíveis
 não mais eu vou correr na areia, na inocência de correr para ti
 não sou ainda e nunca mais a menina de pés descalços que beija assim
 não sou ainda e nunca a inseguramente na tua mão, louca e tremente
 não sou ainda e nunca aquela que viste no baloiço de um banco infantil
 não sou ainda e nunca mais, a tua mulher que ainda ama que nem menina
 não quero o mar a chamar-me mais, puxante de mim para ele
 Quero ir de vontade plena e de consciência própria
 Quero amar assim de um mais para um sinal positivo
 Quero voar e saber que vou aterrar na tua branca cama
 Quero estar nos teus braços seguramente segura
 Aí irei sem contingências, nem mas, nem a pedir sinais
 Aí ficarei, como quem não parte e quer ficar
 Aí te desejarei e te darei o desejo de amar-me, se o quiseres.
 
 MAR
 24.09.02
 02:08m



sexta-feira, janeiro 09, 2004


“Gosto de quem responde antes de perguntar  . . .”



 



                     Alexandre  O’ Neill


quarta-feira, janeiro 07, 2004



Só desabafo quando estou mediamente triste, nunca quando a tristeza é profunda.
Só sabe que isto acontece, o não apetecer falar, quem já lá esteve, sem nenhuma luz ao fundo do túnel, sem coisas felizes sobre o que se apoiar, sem estar realmente vivo e ir andando, arrastando-se por semanas ou meses de dilúvio completo do “inner self”.
Não estamos a falar do que nos aborrece num dia-a-dia corriqueiro e fugaz, falo de uma falta de vontade física para fazer seja o que for, de uma inultrapassável apatia perante os outros e seus afazeres, preocupações, sarilhos, sentimentos, amores. Falo de uma ténue e constante linha que se sente separar-nos do outro lado sem nenhum gosto em ficar por cá, em não dizer o que nos vai doendo na alma, em constantemente sentir o acorrentamento do corpo sem vontade sequer para levantar a mão e dizer “olá”. Sem ver que os outros também sofrem ao ver-nos sofrer e que isso embora nos aflija não poderemos nunca assimilar perante uma dor que temos marcada fundo e sem voz.
Sem conseguir acreditar nas memórias felizes ou num futuro auspiciosamente feliz, só sentido a constante e cortante dor de cabeça e nos intervalos dormimos dopados de drogas várias atenuantes de um real desagradável.
Podem ser semanas, meses, podemos ultrapassar tudo, mas há sempre um restício, uma recordação de que já lá estivemos, afastados dos amigos e da família, nos ditos não-normais, no limiar da loucura, na procura incessante de uma nova ou antiga razão para viver, para ir à luta, para pedir e acreditar que talvez a felicidade exista, que um dia há-de existir de novo o sorriso estridente e genuíno da alegria fundada em bases próprias com fé em nós mesmos.
A desagradabílissima sensação de que a qualquer momento, ou de que talvez um dia possa sentir de novo a impotência, o trapo, a inconsciência é um medo que assusta somente quem conheceu a profunda tristeza contra a sua vontade consciente de ser isso, assim. E dá vontade de dizer: lembra de mim?



segunda-feira, janeiro 05, 2004




As the poet P.B. Davies explained, 'Ideas are animals.' Even when something happens in the cold, dry realm of abstract thought, it takes on an emotional life of its own.

Se eu pudesse um dia...

Era feliz. Porque nisto sempre concordei com as loiras, os porcos machistas, os pequenos e/ou grandes burgueses, os arrogantes, os simples, os amigos, as amigas, a família. Porque nisto do “Se eu pudesse um dia... ser feliz.” É exactamente o que desejamos sempre e desejamos que nos desejem. Porque nem sempre as coisas na vida fazem sentido, mas há desejos básicos, comuns a todos os mortais e quem sabe aos imortais (piadinha!).
Só que eu tenho um problema, ehhhh, poderia dizer, “mas não temos todos?”, óbvio, todos temos o que nos apoquenta, uns mais que outros, à nossa maneira, o meu problema é que eu tenho muita dificuldade em acreditar que algum dia eu venha a ser 100% feliz, porque deixei de acreditar em algumas coisas de base, embora acredite nas pequenas coisas que fazem a felicidade e essas nunca deixaram de existir na minha vida, há bases essenciais, da felicidade em que deixei há muito de acreditar, inventando depois desculpas a mim mesma e aos outros de que isto não vai dar mais, isto não vai dar a lado nenhum, quando a questão essencial, do “issue” sou mesmo eu, é em mim que reside e residirá a solução do “problema”.
Karen Blixen disse no seu diário “One day I had a farm in Africa...” o implícito da felicidade aqui estampado e a continuação desta frase que já não sei de cor, é uma definição da mesma de como foi feliz. Ora pois que a minha felicidade se constroi assim, de coisas simples e complexas.
Se eu pudesse um dia... sem a minha liberdade cortada, por factores físicos que ora não vêm ao caso, fazia a volta ao mundo e parava uns meses largos no grande continente.
Se eu pudesse um dia... comprava um moinho e fazia dele a minha residência permanente, ao pé de um qualquer MAR, talvez na zona de Mafra, São Julião, Samarra, etc.
Se eu pudesse um dia... acabava com o meu stress de já ter vivido muito e pensar sempre que os outros interpretam isso como “experiência de vida” no mau sentido, o que me deixa muito triste. Acabava com os juízos de valor, as classes sociais, a fome, a maldadde e a hipocrisia, a inveja e o ciúme, a pobreza e todas as coisas que ingenuamente ainda nos damos “ao trabalho” de desejar.
Se eu pudesse um dia... metia-me numa “casca de nós”, as a grosso modo, chamadas avionetas e viajava sem destino.
Se eu pudesse um dia... desligava um botãozinho que tenho bem escondido, que faz com que o meu cérebro seja, as vinte e quatro horas do meu dia preocupado comigo e com os outros e acho que a ordem é a inversa.
Se eu pudesse um dia... deixava-me de medos, preceitos, diplomacias, etc e passava a dizer aos outros aquilo que realmente penso no mais fundo de mim e sinto, em vez de ir deixando pequeninas dicas, à espera que se vá percebendo.
Se eu pudesse um dia... trabalharia com crianças, com deficientes, com toxicodependentes, com pessoas em depressão profunda, com doenças ditas graves e com leitura, num projecto inovador e talvez com sucesso na terapia paralela a tratamentos químicos, de internamento, ajuda psiquíca. Faria da mesma uma preciosa atemporal e feliz conjugação para aqueles que nem sempre a têm no padrão normalizado de ajuda do sistema nacional de saúde.
Se eu pudesse um dia... dava a minha felicidade em troca da plena felicidade de todos os meus amigos e familiares.
Se eu pudesse um dia... amava sem medos e sem escuridões indecisas, sem passado, sem mágoas, sem tristezas, sem marcas e desvios, sem pensamentos negativos, sem barreiras, sem medir actos, sem preocupações do correcto, ou limitações do social, sem dor, sem estereotipos, sem obrigações, sem medida...
Se eu pudesse um dia... deixava-me de coisas e tinha filhos, em vez de andar a preocupar-me com a esgotabilidade da água no planeta ou a qualidade do oxigénio.
Se eu pudesse um dia... faria tudo isto e muito mais.




domingo, janeiro 04, 2004

Começar o ano com mais aquele aperto no coração e nem tanto feliz como supunha, não será bom presságio, concerteza.
Tantos bons motivos para sorrir, mas tantos outros...




Façam-se o “favor” de ir ver o Quebra Nozes ao Teatro Camões, vinte e uma horas, Parque das Nações, Passeio de Neptuno, até dez de Janeiro.


sábado, janeiro 03, 2004



A arte de escrever cartas finou-se... esta é uma teoria que já há algum tempo oiço ser defendida. Já ninguém está à espera de abrir a caixa do correio e ver lá o envelope ou envelopezão/envelopezinho, branco ou de cores, bonito ou, menos bonito, daquele amigo que sempre nos conta o seu dia-a-dia ou, o que bem lhe apetece.
Não sei se gosto de não receber cartas, a não ser os postais de algum amigo, que sei de antemão que vai até às ilhas não-sei-das-quantas, ou conhecer a capital de um qualquer país europeu, no meu caso, as amizades são um pouco menos ortodoxas e acabo a receber postais do Nepal e das ilhas que ninguém conhece, perdidas no continente Africano, mais conhecidas por pantânos, ou afins.
Discordo da teoria de que ninguém recebe cartas, porque as recebo em outras formas revestidas, os chamados emails, as mensagens no não-consensual necessário, telemóvel, os blogs de alguns amigos, com posts que me são notoriamente dirigidos, os papeluchos que a minha mami me deixa. Creio que a forma escrita da carta, essa sim, foi profundamente alterada, mas mesmo as cartas em si mesmas, nunca foram de formas habituais, as minhas pelo menos, cheguei a receber algumas escritas em papel-higiénico, escrevi algumas em papel amarelo, papel-manteiga, recebi em papel vegetal, em restos de jornais, bem aproveitadinhos, alguns tickets de restaurante, ou bilhetes de transportes públicos.
Hoje em dia a minha caixa de correio lá de casa, só recebe cartas de amigos, de largos tempos a tempos, no entanto se lhe soubermos apreciar o gosto do raro, estas são bem mais apreciadas, do que as daquelas, já distantes, semanas dos quinze anos em que recebia em média cinco ou seis cartitas por semana de páginas e páginas de declarações de amor, de relatos fortuitos, de amigos triviais e, outros.
Sei que escrevo sempre que posso, o que considero ser sempre uma carta, seja ela de mim para mim, de mim para outro, de mim para muitos, escrevo muitas cartas, semanalmente, uma ou duas por dia, em forma de verso ou de prosa, em papeis do mais original que existe, não por ser especial na escolha, mas porque é mesmo no que está à mão, em formato digital, tecnológico e afins. Afinal escrevo muito mais cartas, escrevem-se talvez muito mais cartas, temos muito mais notícias dos que nos são queridos, escrevem-me sempre, sei quase sempre por onde andam. Gosto de escrever essas pseudo-cartas em jeito de desabafo, num suporte que nem sempre é o papel, escrevo aos que gosto, aos que me merecem o tempo da escrita, aos que dedico no fundo o meu tempo..., não lhes dando nunca o vazio e silêncio de mim. Há que escrever cartas, há que enviá-las, há que recebê-las. Esperando que algum de vocês se queira exorcizar, na difícil tarefa de deitar cá para fora essa carta, escrevi esta, aguardo a tua, proponho-me a escrever mais cartas... cartas para alguém...



quinta-feira, janeiro 01, 2004


A descrição em palavras do que sinto em medida de dor será sempre indiscrítivel para o olhar mundano de um qualquer papão.



Ivan Lins – Vieste
 
Vieste na hora exacta
Com ares de festa e luas de prata
Vieste com encantos
Vieste com beijos silvestres colhidos para mim
Vieste com a natureza, com as mãos camponesas, plantadas em mim
Vieste com a cara e a coragem, com malas, viagens, para dentro de mim
Meu amor
Vieste a hora e a tempo, soltando meus barcos e velas ao vento
Vieste me dando o alento, me olhando por dentro, velando por mim
Vieste de olhos fechados, num dia marcado, sagrado para mim
Vieste com a cara e a coragem, com malas, viagens, para dentro de mim
Meu amor
Vieste de olhos fechados, num dia marcado, sagrado para mim
Vieste com a cara e a coragem, com malas, viagens, para dentro de mim
Meu amor
Vieste de olhos fechados, num dia marcado, sagrado para mim
Vieste com a cara e a coragem, com malas, viagens, para dentro de mim
Meu amor
Meu amor




This page is powered by Blogger.

on-line