terça-feira, novembro 30, 2004
Já não sei tentar mudar o esférico azul em que todos sobrevivemos. Sou o fracasso da revolta que um dia sonhei. E nada de melhor consegui que o mundo fosse. Olho em redor o meu quarto até aos dezoito anos e só vejo livros, músicas e canetas, caderninhos de escritos meus, um ou dois quadros, fotografias distantes, aromas embalados em perfumes longínquos, colares, fitas, anéis, diversas coisas díspares e fúteis. Muitas sebentas de faculdade já trazidas para cá depois. E que aprendi? Muito pouco, tão pouco que as certezas são hoje ainda mais diminutas, mais reduzidas que nos tempos áureos da minha juventude. E nada do que aqui se encontra ou, se conta, me dá a conhecer a fundo do que sou hoje.
Por agora tenho mais vícios, maiores marcas, outras gentes e escrevo por necessidade de viver no papel o que na vida me deixa o espasmo de um vazio, de eco oco.
Se eu te dissesse quem sou, fugirias, dir-me-ias adeus e na despedida nem um olhar para trás me dedicavas.
segunda-feira, novembro 29, 2004
ainda me recordo quando um dia quis ter duas filhas.
imaginei-as num todo inteiro, de olhos redondos e grandes, o sorriso expressivo, as caras sérias atentas a tudo o que lhes dão de novo, nas correrias pela praia, aos abraços a mim, dormindo no sossego da penumbra.
não contei a ninguém que até lhes sabia o nome. e ainda bem, porque nunca se sabe se tudo o que vou ouvir-lhes é o silêncio de não me existirem.
dei-lhes nomes: a Clara e a Laura e continuam por aí a pairar-me o ar que ainda respiro.
quinta-feira, novembro 25, 2004
E se uma psicanalista for com a sua cara, isso não será impulso?
E se uma psicanalista lhe disser que você é uma mulher com "indicações" para psicanálise?
E se insistir? E se ainda lhe quiser demonstrar claramente que tem força para cá estar e deveria de facto começar...
Enche-te as medidas? Ok, é verdade. Principalmente se for uma de renome, ok. Mas e se a auto-consciência te disser: agora é que estás verdadeiramente lixada.
quarta-feira, novembro 24, 2004
Lembro-me do teu cuidado, em noites por aí perdidas, sei que existia uma preocupação com um bem estar entre ambos, sabia que me cuidavas.
Hoje já nada sei. E se soubesse? Deixar-me-ias fugir por aí?
segunda-feira, novembro 22, 2004
Esta não sou eu. Algum pedaço de escora da loucura habita em mim.
Gostaria de dizer que me sinto boa pessoa, mas não sinto. Porque estou farta de fazer as vontades e apetece-me dizer não. Basta. Não me incomodem. Porque sinto-me a morrer por dentro se não for eu. Mesmo que me odeiem.
Posso dizer com todas as certezas: apetece-me fugir.
A grande cidade sufoca-me na essência e a pequena de podres valores seculados em irónicas e malévolas pessoínhas de que fujo há anos, como se o maior de todos: o pecado, em mim encerrasse escondendo-me dos outros.
Não quero só ser feliz, tanto que o meu maior desejo é ser genuína e puramente feliz. E é neste que já não acredito, porque o puro já não é intacto e nem o raro será jamais incomum.
Sem sentido, é o que sou, particular, insólita, extravagante e singular.
Nada que não meta medo quando se vê incólume e impoluta das risadas e dos aromas vários que criam os ambientes.
De loucos todos temos um pouco. De inviolado não.
domingo, novembro 21, 2004
Stay by me, stay by me
You are the one, my only true love
The butcher bird makes it's noise
And asks you to agree
With it's brutal nesting habits
And it's pointless savagery
Now, the nightingale sings to you
And raises up the ante
I put one hand on your round ripe heart
And the other down your panties
Everything is falling, dear
Everything is wrong
It's just history repeating itself
And babe, you turn me on
Like a light bulb
Like a song
When you race naked through the wilderness
When you torment the birds and the bees
When you leapt into the abyss, but find
It only goes up to your knees
I move stealthily from tree to tree
I shadow you for hours
I make like I'm a little deer
Grazing on the flowers
Everything is collapsing, dear
All moral sense has gone
It's just history repeating itself
And babe, you turn me on
Like an idea
Like an Atom bomb
We stand awed inside a clearing
We do not make a sound
The crimson snow falls all about
Carpeting the ground
Everything is falling, dear
All rhyme and reason gone
It's just history repeating itself
And, babe, you turn me on
Like an idea babe
Like an Atom bomb
Nick Cave
sábado, novembro 20, 2004
se deixo as nuvens pairarem? deixo sim. se alimento? alimento na medida em que é o meu modo de ser.
se desejo estar nesta fase toda a vida? não. se procuro? também não.
se afasto? provavelmente.
sem certezas.
quinta-feira, novembro 18, 2004
DEUS PÁTRIA FAMÍLIA
Não acho que seja eu a feliz, a certa, a dona da razão, a ovelha negra, a visita díspar nos meses do ano, sou somente a filha de dois ex-neo-hippies, hoje cada um em seu caminho.
Eu sei que a minha mãe fumava ganzas. Sei que o meu pai ia nessa onda também e, que lhes juntava os cigarros e o álcool.
E no fim de muitos anos, depois de me ter apercebido do mal que fizeram, do incorrecto que agiram, do amor que me deram, do ódio que entranham dentro de si pelos seus pecados muitos. Penso. Para quê?
Para que se enfrascam em bebida e comprimidos se a alegria de viver é o pão-nosso-de-cada-dia. Se os filhos são o fruto do que de si são e deixam a esta terra!
Padecem de infelicidade divorciada, de preconceitos nada-a-ver. Instruem-se cerebralmente castigando-se pelo mal que me fizeram. Perdem dias e anos de sono, drogam-se para dormir, chateiam os amigos, perdem empregos, mudam de café, compram e compram e compram a alegria que não têm, mas não lha vendem, fingem que ali vai disfarçada, mas não, a felicidade não se vende nos centros comerciais.
Trazem com eles um peso de um passado, cuja dor em mim já não existe. Compreendo que houve escolhas a fazer. Que o amor não foi eterno. Sei que não fui desejada e então?
Que me fará isso no presente, traumas de infância recalcados para um destino certo de infelicidade amorosa e etérea? Não creio.
Creio no amor tal como me é dado a conhecer hoje e não por peso e consequência dos actos de antepassados inconsequentes, loucos e apaixonados que do hoje para o amanhã decidiram terminar.
Não, creio que os meus actos em mim se reflectem e que sou fruto de uma luta minha, das minhas escolhas e dos meus degraus ultrapassados ou recuados, não de coisas que já lá vão de outros.
Se eu consigo deixar de beber, fumar, se sei fazer amor, trabalhar, ser feliz e infeliz, crescer, quebrar, lutar, fincar o pé, parar com os anti-depressivos, voltar a errar, querer e não querer, derrubar e voltar a construir? Porque os vejo em ciclo vicioso de auto-destruição?
Porque a mutilação em mim recai?
Se os amores correm bem ou mal, se quero ou não ter filhos, se bebo ou não, se fumo ou não, se avanço ou recuo, nada tem a ver com estar a reflectir que devo ou não seguir caminho para o lugar xpto porque a mãe ou o pai erraram ou acertaram, nisto ou naquilo.
Sou das que penso que se para seres feliz tens de te matar, então mata-te e não cedas ao meu egoísmo.
Não acho que seja eu a feliz, a certa, a dona da razão, a ovelha negra...
quarta-feira, novembro 17, 2004
terça-feira, novembro 16, 2004
Os passos da cidade já não são o que desejo. O metro anti-poluição já não me vê há uns anos. E onde me seria possível aperceber do real bater do coração vivo, desta onde me desloco quase sempre em quatro rodas, deixou a sua beleza sujar-se por revoltas da droga e da prostituição. A casa que comprei ser-me-á o amor presente e cosmopolita, mas desconfio seriamente que um dia se transformará num amor de fim-de-semana.
Cansam-me estas pessoas que correm, mudam de roupa duas vezes ao dia, têm camisas por estrear na gaveta do escritório e não se apaixonam, viram a cara ao pedinte vagabundo que dorme nas ruas de uma cidade agora fria.
Tudo é sujo, as relações emporcalhadas, os homens são fatos de marca e as mulheres pavoneiam-se nos saltos agulha e eu? Desencaixo-me desta realidade que não é para mim.
A minha cidade amiga tornou-se selva e a sobrevivência é a sua lei primeira. Fugirei um dia, ou quem sabe vencerei.
segunda-feira, novembro 15, 2004
sexta-feira, novembro 12, 2004
Foste-me indelével quando comecei a viver de árvore em árvore.
Tudo estava tão certo e programado, tão em colapso.
E eu pé ante pé tentava fazer nenhum barulho para que não me reparasses.
Imagino-te.
E tudo em ti me veio, em rápidos espasmos de um pensamento doente, necessário e de inextinguível carência.
Vem.
Não faças nenhum barulho.
Pé ante pé.
Violenta-me de amor.
Como uma bomba de Hiroshima, ou um caldo de heroína.
Somente não me magoes ou não me mates o sentimento. Turn me on.
Amanhece-me numa história que não se repete, como as outras.
quinta-feira, novembro 11, 2004
terça-feira, novembro 09, 2004
segunda-feira, novembro 08, 2004
sexta-feira, novembro 05, 2004
Os meus para sempres desapareceram contigo
Não me tinhas dito que haveria um fim
e nem avisado da dor que lá vinha
não me foi dito como ir do amar ao não querer.
quinta-feira, novembro 04, 2004
Será que alguém lê a tristeza no meu sorriso?
Será que o meu mar desconfia?
Terão o Sol e a Lua reunido a meu bem-querer?
Terá havido um consílio de almas a bel prazer destinado este sorriso?
E que será de mim nesta desansiada tristeza inconfortável decidida por seres desanimados com o mundo?
quarta-feira, novembro 03, 2004
terça-feira, novembro 02, 2004
Eu sei que fazia qualquer coisa
para não mais te escrever, te querer.
Te amar.
E voltar a ser feliz.